"Como é que está hoje ?"
Questionado, dissecado pela questão.
Respostas às cem mil rotações no cérebro,
Dez mil rotações bombeadas no coração,
Sem rotação na alma,
Desprovida de sol até no pico do seu verão.
Prevê-se um céu limpo com brisa fresca
E apenas surge vento gélido da desilusão.
Não se prevê bom tempo no futuro,
Desperdiçado fica, um tão doce serão.
É sempre assim com todas as emoções ?
Previsivelmente sentido ou imprevisível devoção ?
O nevoeiro deposita-se em mim, taciturno e cego,
Enquanto o tempo avizinha o primeiro trovão.
Vários se seguem, um menos assustador que o anterior,
Até que se observa, do fundo, um pequeno clarão.
A dor pode chegar sem avisar mas depressa vai,
No fim, só nos resta acenar com a trémula mão.
Reabilitado duma intempérie em tantas outras,
De novo, ouço com clareza essa questão:
"Então, senhor, como é que está hoje?"
A voz eleva-se da alma do mundo, certo e são.
"Hoje, está de chuva."
[ O tempo não é como nós queremos, nem é aquilo que sensibiliza o coração. Podemos abdicar de tantas oportunidades que fariam qualquer um feliz, porque não se encaixam, assim como podemos querer que o mundo nos sorria, e ele traz a tempestade. Existe timing ? Talvez. Quem sabe... ]