Tenho várias confissões a fazer. O meu confessionário é tão simples quanto um pedaço de papel com linhas. A vítima é a escrita...ela também sofre tanto quanto eu, entende-me, transfere toda a angústia, todo o descontentamento, sem alguma vez pedir algo em troca, sem nunca hesitar em mostrar a verdade pura e dura.
O pesar destas letras é profundo e intransigente. Estes assuntos ultrapassam a minha capacidade mental e da alma. Tudo o que acontece ganha forma e contexto específicos, nada aparenta ser ao acaso. É perturbador. O entrelace de tudo o que é bom e mau pode ser difícil de interpretar, mas tudo possui uma razão para acontecer. Acreditar nisso é como que uma chave de ouro.
Confesso que não tenho medo de cometer loucuras. Confesso que esse facto contrai medo em mim. Medo de que a desconfiança, a insegurança ou até a paixão me façam perder a visão das coisas com clarividência e preponderância. Confesso que não tenho medo de lutar até ao fim por um sentimento em que acredite inequivocamente. Confesso que tenho medo de descobrir que posso estar, no entanto, a lutar em vão. A traição incumbida pelo destino é bem mais dolorosa e muito menos fácil de contrariar.
Este conceito justiça tem interesses ambíguos. Por vezes o coração não tem culpa de ser contra o destino e querer que o impossível aconteça um dia, tem apenas uma vontade inocente de se sentir completo e verdadeiramente funcional. Como podemos nós contrariar tanto impasse se tentamos sempre chegar mais longe? O que nos falta para conseguir atingir o próximo passo?
Confesso que por vezes nem sei como não paro de escrever, como consigo confessar-me, assim, desta forma, sem fraquejar, sem pensar duas vezes no que poderá sair, sem medos. Mas com tantos medos dentro de mim. Confesso que não consigo entender o conceito tão relativo de "sociedade". Parece que vivemos num mundo em que, sendo todos iguais, nos tratamos como se de espécies diferentes fossemos oriundos. Não se compreende.
Confesso que penso demasiado no futuro e no passado. Penso sem pensar e penso como respirar. Penso a sonhar e pensamentos estou sempre a suar. Confesso que tenho aversão a todos os que não pensam nem ponderam, não querem saber, vivem por viver, alheios aos problemas tão óbvios que os rodeiam. Se pensar em excesso é um problema, creio que a falta de pensar é igualmente grave.
Vive-se uma vida que deixou de o ser há bastante tempo. Tantos que de forma imatura assumem que não precisam de amar ou sentir para viver, que os sentimentos são o que nos tornam fracos e susceptíveis à dor e à desilusão. Ninguém precisa de amar para conseguir sobreviver. Mas todos nascemos com a capacidade para amar e querer alguém, e isso não pode ser negado, nunca.
São todos loucos irracionais por pensarem que se conseguem ver livres das emoções assim...esquecem-se que sem mente e sem sensibilidade, não existe evolução! Posso ser um louco como eles; mas se me pedirem para escolher entre ter uma vida sem coração, ou um coração sem vida, eu escolho um coração sem vida...prefiro saber sentir, pois sem o meu coração, confesso que eu já estaria morto faz muito tempo...!
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