3 de março de 2011

Veneno da racionalidade

A espuma do rio traz o que foi esquecido.
Arrastou os restos de vida que mais ninguém quis.
Tantas histórias e esperanças atiradas à água
Repleta de antigas boas vontades, tornadas agora vis.

Cai mais um ramo de velhos espinhos do canteiro,
Feridas cristalizadas ao longo dos ramos da mente.
No final está a rosa que quer colher o guerreiro
E também o verdadeiro teste à sua força de sentir.

Voa timidamente o pássaro pelas brisas da calma.
A tempestade não demora, ela vem para o devorar
Com a sua chuva de transtornos que consome a alma.
Quem receia libertar-se nunca vai saborear nada.

Desfazem-se os escombros do ser na escuridão
Enquanto ele se entrega à sua última balada.
A canção da vida irá agora desvanecer-se
No horizonte da fala tremida e inacabada.

Tanto que se iludem os ilustres e decadentes
Pensando que o problema da vida é viver.
Na verdade são eles os únicos toxicodependentes
Desse veneno que os destrói, o seu ego e cegueira.

E enquanto o desconhecido assusta como agulhas
Os becos mentais insustentáveis dos demais,
Eu vejo a doença da racionalidade propagar-se
Por entre actos e falas destas mãos mortais.

2 comentários:

  1. A racionalidade, uma doença? :)) Não podias ser mais artista, caro João. :)

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  2. É verdade...a racionalidade é a nossa maior arma, mas também é a mais auto-destrutiva. Quem não souber lidar com a sua forma de pensar, irá inevitavelmente ser engolido por ela...e aí deixa de ser racional, será apenas mais um frustrado.

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