29 de agosto de 2011

Cascas de carvalho

Memórias intemporais,
Acções que tais,
Invadem os olhos dos demais.

Pequenos fragmentos,
Histórias de momentos
Transmitidas às forças dos ventos.

No carvalho me encostei,
Nele vivi e relembrei
O que já fiz e o que ainda não sei.

Pego em cada casca enrugada,
Cada experiência solene ou conturbada
E coloco-a na mente (in)controlada.

Pedaços de mim irão cair,
Outros renascer e surgir,
E todos serão vida, a sorrir.

[ Nem uma árvore está imune ao inexorável poder do tempo. Tudo nasce, tudo tem a sua altura para desaparecer. Costuma-se ver declarações de amor forjadas na madeira, algo que perdura, ainda que fisicamente finito. Todos nós somos um pedaço de madeira cujas gravuras variam de profundidade, algumas caem e outras ficam para sempre. Boas ou más, são nossas. E são prova de que estamos vivos. Portanto, há que sorrir ao todo, tentar ter orgulho naquilo que somos e tentar polir aquelas arestas irregulares um tanto difíceis de eliminar. O todo não tem de ser perfeito, mas tem de ser nosso, e dar-nos vontade de continuar, porque vale sempre a pena tentar! ]

12 de agosto de 2011

Todos os sons do silêncio

Sentado num banco de jardim
Onde os sons não parecem ter fim,
Encontro calma.
Nas entranhas da minha solidão
Bate à porta o ritmo do meu coração
Trazendo amor à alma.
Vem o vento veloz e vadio
Roubando calor com o seu abraço frio
Num silêncio assobiado.
Passa aos saltos no olhar essa gente
Cujos sons são só nevoeiro na mente,
Um silêncio dissimulado.
Sigo pelas ruas dos meus sonhos
Indiferente aos sons medonhos
Do que já foi e está para vir.
Tenho-me a mim e ao meu mundo.
Todos os sons são o meu silêncio profundo,
São as cores do meu quadro de sentir.


[ Dizem que uma imagem, ou um acto, valem mais que mil palavras. E um silêncio...valerá mais que mil sons? ]

7 de agosto de 2011

Naquele trilho, sem rumo

Numa carta de gravilha escrevi o meu caminho,
Uma estrada a direito, sem rumo.
Contemplei, vezes sem conta, um novelo sem ponta,
Uma ponta sem fim.
Perdi palavras, perdi significados,
Desferi golpes no coração ao errar.
Ao tentar proteger, apenas consegui quebrar,
Destruir partes do caminho sem rumo.
A vida faz-se a correr na gravilha,
Ora fere, ora corta pontas da estrada.
É assim que nasce, aos poucos,
Os roucos sons da nossa consciência.
Contemplarei, numa manhã de sol,
Uma única estrada sem rumo,
Numa carta em que posso escrever o meu caminho.

[ Podemos não saber o que está ao fundo do horizonte, nem o que está ao fundo do horizonte depois desse...mas até chegarmos lá, nunca o saberemos. Viver é caminhar até ao fim, e o fim, somos nós que o fazemos. Vamos atrever-nos a viver então? ]