27 de julho de 2012

Um vulto de ninguém

Começa a chover com a janela aberta
Para o mar alto da personalidade.
Ondulam o sombrio e a tempestade
De uma alma desancorada e deserta.

Esqueci-me de mim, algures pelo trilho,
Parti o espelho da alma suave e cristalino.
Agora sou um reflexo negro de um menino
Que se perdeu na contemplação da água sem brilho.

Vejo a minha vista como se fosse cega e muda,
Vazia como o vulto de uma pessoa carrancuda,
Vidrada no silêncio de uma sala desnuda.

Quem sou já me procurou e não encontrou ninguém,
Quem fui encara-me cada vez mais com desdém,
Quem quero ser...não é um vulto, mas sim alguém.

[ Sempre a caminhar atrás da própria sombra e não além dela. Sempre a pensar no que nos faltou e no que se seguirá. Quando é que deixa de haver um "quando" e somos nós agora ? Quando é que deixa de haver um "porquê" para não procurar vazios ? Quando é que deixa de existir um "onde" e fazemos nós o caminho ? Quando é que deixam de persistir perguntas ? Nunca...mas as respostas também não têm de existir fora de nós. As respostas somos nós, e a vida nunca irá acabar numa pergunta. Irá sempre, no entanto, começar com aquelas que nos propormos a ser a resposta. ]