24 de janeiro de 2011

Formas de expressão

Comunicação em putrefacção.
Mundo entristecido e mudo.
Comunicar, uma aberração.
Um nada cheio de um doentio tudo.
Espero e vou ficando
Com todo um dia-a-dia
Em que o falar é contrabando
Nesta depravada utopia.
Compaixão sem expressão.
Vida ignorada e muda.
Sentir, uma obsessão.
Uma verdade demasiado desnuda.
Acredito e vou gritando
Com toda uma afonia
Em que a força vai faltando
Nesta inexorável agonia.

Prefiro falar a escrever
E a sentir o que digo
Pois sentir é viver
E o viver é meu amigo.

11 de janeiro de 2011

Sem palavras...

...me encontro, sem rascunhos que sejam.
Sem voz me vejo, sem palavras que me protejam.
Estou sozinho no mundo dos defuntos
Onde as palavras perdem-se na calçada.
Lançam-me vestígios de velhos assuntos
A toda uma vida sem cara e desfocada.

A toque de sarcasmo se gira o leme
Por mares imorais e dispersos
De palavras que não existem.
Palavras em mim subsistem
Mas nada sai destes lábios submersos
E o gesticular vai, a mente treme.

Galanteio a paisagem do costume
E vislumbro o papel na secretária.
A pena é um mundo que se exume
Das prosas e poesias de sede imaginária.
Estar sem palavras levou-me ao local
Onde eu respiro o escrever intemporal.

6 de janeiro de 2011

O desconhecido

Por vezes viver significa deixar a vida passar.
Conhecer-me é uma ilusão difícil de se lidar.
A vivência impessoal é uma cicatriz do ser,
Invade o estranho, invade bem lá dentro.
Somos uma peça de todo um puzzle a desfazer.
Ao atravessar as águas tumultuosas da experiência,
Cruzei-me com o desconhecido dos profundos.
Dizia ser eu sem as blasfémias da vida,
Sem as negras marcas do mundo da indecência.
O descrédito é lei na terra da hipocrisia.
O corpo acompanha o que a alma já perdeu.
A única serventia da vida é poder morrer
E perder o desastre que é afastar-se da mente.
Por fim deixei-te, desconhecido, ocupar esta vida vazia.
Corrompeste o negativismo com a tua inconformidade,
Sabes todas as minhas fraquezas e forças,
Lançaste ao nada tudo o que me resta
E agora sou eu, sem tristeza nem felicidade.
Apenas eu no mundo mundano e imundo.
Conheces-me melhor que eu próprio, desconhecido.
Tornaste o meu mundo um poço de esperança sem fundo.
Recriaste o que não podia haver ou existir.
Pegaste nas mãos e fizeste-me novamente sentir.

Que o único desconhecido em mim sou eu, e que basta conhecer-me, para voltar a acordar todos os dias com toda uma nova vontade.