29 de junho de 2010

Pedaços de tempo

São pedaços.
São grãos de areia timidamente agrupados numa praia.
São lenha ardida na floresta à espera que caia.
Tão pequenos e tão grandes espaços.
Foram pedaços.
Foram juras de amor atiradas à mercê dos ventos.
Foram feitiços mil para causar alheios tormentos.
Coram as faces inocentes com sentidos abraços.
Serão pedaços.
Serão verdades nuas por fim descobertas.
Serão ruas escuras extraviadas e incertas.
Farão sentido os momentos ou de sentido se tornam escassos.

Pedaços de tempo aqui coloco.
Pedaços de vida e de imagens sem foco.
Forças que vêm do Além.
Forças que fazem de mim alguém.
Pedaços de tempo aqui coloquei.
Pedaços de tudo o que já amei.
Corações outrora ressentidos.
Corações que foram fortalecidos.
Pedaços de tempo aqui colocarei.
Pedaços de experiências que ainda viverei.
Vocações dentro de mim renascerão.
Vocações e sentimentos em perfeita união.

21 de junho de 2010

Para ti

Tu.
Sim, és tu.
Sempre foste tu.
O que os olhos cegos não vêem, o coração observa.
O que os ouvidos surdos não ouvem, o coração escuta.
O que as mãos não conseguem tocar, o coração sente.

Tu.
Sim, não existe mais ninguém.
Sempre foste aquele místico alguém.
Consegues emanar a tua chama mesmo quando todas as outras já se apagaram.
Consegues ser a água que mata a sede mesmo quando todos os rios já secaram.
Consegues demonstrar que há sempre uma luz ao fundo do labirinto, uma luz que nunca apaga.

Tu.
Nem sei como tudo aconteceu assim.
Foste o princípio, foste o meio, foste o fim.
Numa vida sem sentido, num mundo ainda confuso, foste o caminho certo para andar.
Numa época escura, num estado de espírito destroçado, foste a força que me fez lutar.
Numa história fragmentada, nos confins do pensamento, foste a inspiração mais pura.

Tu.
Tu és a cura para o meu cancro sentimental.
Tu és a resposta para todo o problema existencial.
Não tem de haver amizade, não tem de haver amor, não tem de haver atracção mútua e incessante.
Não tem de haver conversa, não tem de haver romantismo, não tem de haver uma vontade dominante.
Não tem de haver tudo isso, basta a presença, basta a troca de olhares e silêncios comovidos.

És tu, porque no meio de tudo o resto, não há mais nada.


[dedicado à Amoura, que me faz bem, todos os dias. <3]

16 de junho de 2010

O ódio pelo ódio

Estou mais distante...
Cada vez mais o sinto...
Sentir-me bem é um sacrifício, um luxo...
As grades estão a crescer....
Como pudeste trair-me tão cruelmente?
Deixa-me...
Deixa-me sair daqui...
Não quero mais...não...
O sono é uma criança cuja ingenuidade implica matança!
O acordar é um amor e oculto mistério que traz dúvidas e horror!
Agh, que dor...
Não consigo, não entendo...
Estarei eu a perder o controlo?
Às vezes nem quero entender...
Como foi que me consegui perder...
Divago num oceano de veneno...
Inocentes e culpados são estes pensamentos desconcertados!
Culpados e inocentes são estes seres humanos inconscientes!
Não sabem ver estas correntes?
Eles despertaram o meu maior assassino...
A raiva que se acumulou, o ódio que há cá dentro...
A minha mente virou-se contra mim...
Raiva e ódio são os grandes vencedores que partilham o pódio!
A minha essência morreu e estou a lutar contra algo que é meu!
O meu ser não soube lutar e perdeu...
Odeio ter que ser assim!
Odeio estar assim!
Odeio esta prisão forjada!
Odeio ser contra a minha mente fragmentada!
Odeio o ódio!!!

4 de junho de 2010

Sentir ou não sentir, eis o sufoco

Se pudesse, deixava de poder.
Se sentisse, deixava de sentir.
Se existisse, deixava de existir.
Se tentasse, deixava de tentar.
O estrangulamento pelo meio termo, o não cambalear nem para um lado nem para o outro.
O forçar quebra a força, o equilíbrio é um limbo repleto de prurido.
Que sofrimento sôfrego!
Que dor não sentida e sempre presente!
Porque tem que existir algo que atormenta e não existe?
Porque tem que haver sempre formas de desfigurar o que outrora também eram formas?
Oximoros existenciais!
Oximoros que não existem!
Manifesta-se a cólera, a raiva, o frenético desejo de destruição.
Manifesta-se a falta de tudo isto por não terem qualquer razão para existirem.
Falta algo que não falta.
Falta algo que se repete.
Incompleto é o coração sem sentimento.
Incompleto é o poema com excesso dele!
Já nada parece fazer sentido.
Já nada é verdadeiro neste mundo de plástico moldado à vontade do desejo mais mesquinho.
Já nem quero tentar sentir algo bom...
Já nem preciso da chuva para me encharcar de desespero...
Só quero saber se há forma de sentir seja o que quer que for, bom ou mau!