28 de dezembro de 2011

Distante

Tentei por tentar,
De braços abertos
E a tremelicar,
Dar algo ao tudo
Para perfeito ficar.
Foi aí então,
Que a distância
Deu-me um encontrão,
Deixou-me estendido
Num vazio chão.
Nem sempre é fácil,
Até o destino tem ferrão.
Mas se houver vontade
O ser não teme.
Amar é um barco
À deriva sem leme.
O coração está perto
Mesmo estando distante.
Ninguém pode duvidar
Da alma de um amante.

[ Para quê perder tanto tempo a tentar explicar um sentimento ? Basta saber que a distância física nunca poderá ganhar à proximidade do coração. ]

Ps: peço desculpa pela falta de entradas...a mente tem estado bastante ocupada e a precisar de um refresh !

4 de setembro de 2011

Errar também é amar

Por entre bosques repletos e verdejantes
Com assobios de ventos cantantes,
Nasce o sábio, cresce a vida.
Por entre rios de água pura arrefecida
Pelas correntes que vêm e vão,
Nasce a discórdia, cresce o perdão.
Por entre bosques despidos e frios
Com silêncios cortantes e sombrios,
Nasce o errar, cresce o amor.
Por entre os céus de esperança e horror
Com toda a força possível de um ser,
Nasce uma vontade, cresce o renascer.

Errar é humedecer os olhos e não chorar,
É ter nós por dentro sem nunca sangrar,
É ter consciência que há que crescer para saber amar.

[ Todas as fases da vida são importantes. Podemos nascer sábios e morrer ignorantes, nascer ignorantes e morrer sábios. Errar e reconhecer é ter consciência das falhas; podemos rejeitar o mundo e este não o saber, podemos ser os maiores apaixonados e não o saber demonstrar, podemos ser brilhantes e provar apenas insanidade...o que está por dentro, nós sabemos o que é. Mas se não nos esforçarmos para o transmitir para fora...quem o saberá? ]

29 de agosto de 2011

Cascas de carvalho

Memórias intemporais,
Acções que tais,
Invadem os olhos dos demais.

Pequenos fragmentos,
Histórias de momentos
Transmitidas às forças dos ventos.

No carvalho me encostei,
Nele vivi e relembrei
O que já fiz e o que ainda não sei.

Pego em cada casca enrugada,
Cada experiência solene ou conturbada
E coloco-a na mente (in)controlada.

Pedaços de mim irão cair,
Outros renascer e surgir,
E todos serão vida, a sorrir.

[ Nem uma árvore está imune ao inexorável poder do tempo. Tudo nasce, tudo tem a sua altura para desaparecer. Costuma-se ver declarações de amor forjadas na madeira, algo que perdura, ainda que fisicamente finito. Todos nós somos um pedaço de madeira cujas gravuras variam de profundidade, algumas caem e outras ficam para sempre. Boas ou más, são nossas. E são prova de que estamos vivos. Portanto, há que sorrir ao todo, tentar ter orgulho naquilo que somos e tentar polir aquelas arestas irregulares um tanto difíceis de eliminar. O todo não tem de ser perfeito, mas tem de ser nosso, e dar-nos vontade de continuar, porque vale sempre a pena tentar! ]

12 de agosto de 2011

Todos os sons do silêncio

Sentado num banco de jardim
Onde os sons não parecem ter fim,
Encontro calma.
Nas entranhas da minha solidão
Bate à porta o ritmo do meu coração
Trazendo amor à alma.
Vem o vento veloz e vadio
Roubando calor com o seu abraço frio
Num silêncio assobiado.
Passa aos saltos no olhar essa gente
Cujos sons são só nevoeiro na mente,
Um silêncio dissimulado.
Sigo pelas ruas dos meus sonhos
Indiferente aos sons medonhos
Do que já foi e está para vir.
Tenho-me a mim e ao meu mundo.
Todos os sons são o meu silêncio profundo,
São as cores do meu quadro de sentir.


[ Dizem que uma imagem, ou um acto, valem mais que mil palavras. E um silêncio...valerá mais que mil sons? ]

7 de agosto de 2011

Naquele trilho, sem rumo

Numa carta de gravilha escrevi o meu caminho,
Uma estrada a direito, sem rumo.
Contemplei, vezes sem conta, um novelo sem ponta,
Uma ponta sem fim.
Perdi palavras, perdi significados,
Desferi golpes no coração ao errar.
Ao tentar proteger, apenas consegui quebrar,
Destruir partes do caminho sem rumo.
A vida faz-se a correr na gravilha,
Ora fere, ora corta pontas da estrada.
É assim que nasce, aos poucos,
Os roucos sons da nossa consciência.
Contemplarei, numa manhã de sol,
Uma única estrada sem rumo,
Numa carta em que posso escrever o meu caminho.

[ Podemos não saber o que está ao fundo do horizonte, nem o que está ao fundo do horizonte depois desse...mas até chegarmos lá, nunca o saberemos. Viver é caminhar até ao fim, e o fim, somos nós que o fazemos. Vamos atrever-nos a viver então? ]

24 de julho de 2011

A carta que nunca escrevi

Paira o ar,
Areja-se o mundo
Repleto de luz de luar.
Aceno à incerteza,
Besta anónima do ser;
É ela que mostra rudeza
No meu semblante sorridente.
Seguro então uma carta que não mente.

Mesmo que o tempo seja cruel,
As palavras falarão bem alto.
Este coração frágil, a ti é fiel.


[ Por vezes os actos não chegam, a coragem não basta, o tempo parece pouco. Mas o silêncio por entre as palavras pode ter muito a dizer…quem sabe se a verdadeira mensagem não estará mesmo à frente dos nossos olhos. ]

17 de julho de 2011

Caminhar

Acumula-se areia no sapato por cada tempo que passa.
Caminha-se a custo, a vida é cada vez mais devassa.
Praias incógnitas cobrem uma mente com vontade escassa
E o mundo, esse, parece feito de injustiça, não de massa.

Se tudo é feio e grosseiro, então nunca houve beleza.
Se tudo é fixo e imutável, então nunca houve incerteza.
Se tudo é planeado ao pormenor, então nunca houve destreza.

Tememos caminhar no pavimento apenas pelo seu aspecto.
Talvez fosse preferível então trocar o chão pelo tecto.

Um dia a morte irá parar a tua caminhada; até lá, ignora as cicatrizes.

1 de julho de 2011

O tal verbo

Nunca sei por onde começar,
Que postura ter, que palavras usar.
Desfaço-me num cavaleiro sem armadura
Quando chega a altura de falar.
Confunde-me toda essa gente
Que atira um verbo à sua frente
Como um jogo impossível de perder.
Tudo a declarar é algo que se sente.
Talvez seja lento ou inseguro,
Talvez funcione como um fruto maduro
Cujo sabor se difunde melhor
Quando fora dos ramos me aventuro.
Mas não temo esse verbo poderoso
De feição cativante e toque fogoso
Que tanto lança ondas de prazer
Como fita o destino frio e doloroso.
Quero dizê-lo com todas a certeza
Sem sombras nem impureza,
Sem dores de pensar nem obstáculos.
Quero poder dizer "Amo-te" com nobreza.


[ Sinto que por vezes as palavras são apenas palavras, meios de comunicação, meios de passar uma mensagem que muitas vezes nem é verdadeira ou sentida. Porquê? Os gestos, as palavras, os actos...todos são formas de ultrapassar a barreira da comunicação e mostrar aquilo que sentimos, que pensamos, que somos. Nós SOMOS mais que uma ou outra dessas categorias, todas fazem parte de nós. Invade-nos um mundo em que num dia existe um "amo-te", no próximo existe um "talvez te amo" e ainda noutro deixa de existir. Não chega a vida ter de ser inexoravelmente efémera, as pessoas fazem questão em hierarquizar tudo o que as rodeia de forma a que os sentimentos, o que se diz e o que se faz sejam tão superficiais quanto o chão que pisam. Talvez consigam sentir mais depressa que outras, agir menos depressa que outras, mas o que interessa é que o façam com certezas, e que se desprendam dessa mania doentia de se agarrarem ao meio termo apenas para não terem nada. Assim nunca terão algo verdadeiramente. Vivam antes de morrer! ]

14 de junho de 2011

Tinta vermelha

Peguei na minha imaginação como uma caneta
E quis gritar a alma dentro da minha vida.
Temia que a minha tinta fosse sempre preta,
Como o orgulho que sangra e não deixa ferida.

Usei o fundo do horizonte como meu papel
E esperei pelas palavras na inquietude do ser.
Tremia enquanto o tom carmesim forte e fiel
Invadiu a mente, deixando o corpo a ferver.

Arde aquilo que acreditei estar adormecido.
Nem o mundo, nem eu, aparentam conhecer-me afinal.
Ninguém, excepto esse carmesim destemido.

Não precisam de saber quem és ou quem fomos.
Mas o papel saberá, as palavras não mentem.
Apenas agradecem aquilo que agora somos.

7 de junho de 2011

São coisas

Poderei ter o mundo aos meus pés
E os meus pés tropeçarem no mundo.
Poderei saber ler os escondidos rodapés
E não ver o seu significado profundo.
Serei grande sabendo que sou pequeno
Ou serei apenas tudo aquilo que condeno?

Poderei ter todas as forças dentro de mim
E de mim irradiarem somente destroços.
Poderei ver em outrem uma paisagem linda
E em mim ver apenas meros esboços.
Serei correcto sabendo que estou errado
Ou serei mais um rosto fragmentado?

Poderei sentir o maior amor por alguém
E esse alguém estar longe da minha alma.
Poderei não magoar a alma de ninguém
E ninguém valorizar o estender da minha palma.

Serei sofredor por gostar de sofrer
Ou serei alguém que não desiste de viver?
Sim, sou sofredor. Não, não gosto de sofrer.
Mas são essas coisas da vida que nos fazem crescer.

[ Poderemos ter amizades distantes que não se rompem. Poderemos ter alguém especial que não vemos tanto quanto desejaríamos. Poderemos enfrentar realidades demasiado duras para connosco. Poderemos ter o mundo contra nós ou a nosso favor...mas existe uma coisa muito importante. Em nenhuma altura, boa ou má, se deve desistir de continuar, de sentir, de preservar. Eu sou humano como todos os outros...sei que existem dois lados da moeda. Sei que não podem existir apenas dias bons, e também sei que nunca irão existir apenas dias maus. Tenho orgulho daquilo que sou, daquilo que posso aprender, daquilo que posso lutar para poder voltar a ver. Nem que seja por breves minutos. Quando desejamos mesmo algo, o tempo é efémero. Todos os segundos valem a pena. Obrigado, a todos aqueles que, mesmo sendo muito poucos, me fazem sorrir. Isto é para vocês. São coisas da vida...quem sabe o que o nos espera a seguir? ]

28 de maio de 2011

Eis o existir

Nós somos as coisas que vemos no canto do nosso olho,
Descentralizando a nossa essência, e a dos demais.
Somos almas de guerreiros vencidos na batalha da vida,
Querendo cultivar apenas demência, isenta de sonhos.

Sós somos aquilo que abandonámos no pódio da existência,
Corpos que irrigam de sangue o corpo, esquecendo o coração.
Somos tantos e tão poucos numa história mais que esquecida,
Procuramos dar e receber sermões, sem saber o que são palavras.

Eis que a evolução avançou a máquina,
Eis que a evolução regrediu a mente.
E assim a evolução retirou a emoção do sentir.

Não estou triste, o fim de todos é inevitável.
Não sou nem serei mais que apenas um sonhador.
Mas posso escolher entre só respirar...e existir.

[ Viver e existir...as diferenças são notórias. Mas a interpretação, essa, é a de cada um. ]

24 de maio de 2011

Que fruto se colhe da árvore da alma?
Que mistérios trazem cada ventania ou brisa calma?
Sou nu, sou desfeito, sou apenas eu nos demais,
Talvez muitas metades de mim estarão entre esses tais,
Mas não os conheço, são apenas rostos,
São apenas areia nos desertos dos meus desgostos.
Sem título me encontro, sem postura nem forma de ser,
Procuro incessantemente uma forma de conseguir viver.
Tenho amor que desconheço numa dessas faces tão distantes,
Porque não querer saciar a vontade destas palavras vibrantes?

Sofro e sorrio todos os dias; falta apenas encontrar-me em alguém que faça o mesmo.

[ Títulos, cabeçalhos, rodapés...já somos tão complexos assim, não somos apenas meras palavras. A solidão e o amor andarão de mãos dadas enquanto não soubermos primeiro deixar a nossa própria história em aberto, arrancar umas quantas páginas da vida, e deixar a árvore da alma crescer. As memórias são eternas...mas o que fazemos com elas pode ser reescrito. Já chega de viver preso às exigências. Quero ser livre...e voltar a encontrar outro eu em alguém. ]

19 de maio de 2011

You, me, the world

Late night falls upon my face,
Silent, dancing without a trace.
All those sleepless nights,
All my joys, all my frights.
I can't change who I am inside,
These feelings, they cannot hide.
I'm a simple soul lost in life,
A road that goes on, with joy and strife.

But I dreamed of you and me,
A day for us, a path for we.
Life's not all but regret,
There's still our beautiful sunset.
I have many dreams still hidden,
Many wishes by fate forbidden.
I've been blind with eyes wide open,
I've always been strong, yet broken.

You can't change everything,
Life's not a thing you can fling.
But you can learn from what's bad,
It doesn't mean you can't be sad.
There're all kinds of amazing ways
To live and learn in the darkest days.
I want to keep going with a grin,
Kick this arrogant world in the chin.

If everything's meant to last just a while,
Why don't you tag along and simply smile?

22 de abril de 2011

Reflexo trocista

Ainda não me vislumbraste e já me cobiças, escritor.
Tu e todos os ignorantes que passam por ti
Como rebanho controlado à distância pelo pastor.
A tua revolta poética bajula-me sem cessar.
Invejam-me tanto, os teus "amīcus sapiens",
Acham-se melhores que um mero reflexo no mar.

Pois surpreende-me o quão rápido se conseguem afogar.
Uma imagem que não pensa, até no pensamento os supera.
Apenas tu entendes como o reflexo acalma a fera.

Bajulo-te, escritor, da minha troça fizeste da poesia o espelho da alma.

[ Vivemos constantemente atrás da nossa própria sombra, a lutar para ser melhor que um mero reflexo...tentamos tanto ou tão pouco, que uma mera imagem nos parece imortal e poderosa demais para ser superada. Mas tentar hierarquizar a potência da imagem é uma fraqueza. Nós somos aquilo que vemos, nem mais, nem menos. Acho que já chega de perseguir espelhos...certo? ]

17 de abril de 2011

É simples

É simples, apenas nós teimamos.
É fácil, somos nós que complicamos.
Os fracos são fortes e os fortes são fracos,
Todos somos iguais, cada um é apenas cacos.

Uma mera porção de ser, uma reflexão
No espelho da vida. Presos na sua emoção.
Não sabem ver o quão simples pode ser,
Na adversidade ou na fartura, só basta viver.

Quantos mais milhares de anos irão passar?
Sou humano, decerto, não nasci deus luso.
Mas tenho consciência, tenho sonhos a fervilhar.

Por isso não compliquem, não vivam presos.
Quem nasce perfeito não consegue evoluir.
Acordemos do sono que arrefece os sonhos acesos!

[ Acho que saber viver não é ultrapassar as adversidades nem é poder ser feliz para sempre. Viver é amar e sofrer, ganhar e perder, lutar e fugir, pensar e sentir. Não podemos tentar ser mais altos que o pódio nem querer ficar eternamente debaixo dele. Se quisermos aprender, temos que esperar o pior, fazer o melhor, absorver os erros e irradiar emoções, para não sermos presos na emoção ou no pensamento. Tudo é fácil, só será difícil se não houver consciência. Acordemos! ]

12 de abril de 2011

Não sei

Sou determinação, força de mente.
Sou amor, caneta da poesia.
Sou inconstante, força de maré vadia.
Sou humano, apenas temporariamente.

Fora para dentro, dentro para fora.
Largo a mão da fúria repentinamente.
Caio em vergonha, levanto-me novamente.
Não se deve temer a emoção do agora.

Erro, é essa a consequência de ser.
Vou erguer-me, vou tornar-me caneta.
Prepara-te, poema, estou a chegar.

Amor, tornarei a fazer-te escrever.
Determinação, mostra-me a tua silhueta.
Vai chover tinta, o meu humano vai amar.

[ Por vezes, temos amor em nós que se exalta e é expelido de forma colérica e inconsciente, tal podendo magoar os outros ou até nós próprios. Não se sabe, muitas vezes, que tal o é. Consciência, calma...as palavras resolvem. Os verdadeiros laços não se destroem facilmente. ]

8 de abril de 2011

Adormecer

Aqui jaz a última esperança na Humanidade.
Sinto a minha lucidez a entrar em coma,
Sinto-me uma flor sem aroma e sem vontade,
Pretexto fingido num mundo sem verdade.

Aqui vive um coração despido e desfeito.
Um sorrir em mim consegue persistir,
Um vento que arranca as raízes do preconceito.
Sei que não vim ao mundo para ser perfeito.

Aqui adormecem os olhos da escrita.
Ela sabe que não sou só uma vítima.
Ela aplaude esta fonte de inspiração infinita.

Adormeço enfim neste berço sentimental.
Talvez seja apenas um mortal com sonhos,
Talvez seja um sonhador de alma imortal.

1 de abril de 2011

Dúvida vagabunda

Tive o mundo nas mãos
E as mãos me fugiram.
Nos meus momentos mais sãos
As vozes interiores conspiram.

Sou um inocente que vive culpado
Por todas as dores que não lhe feriram.

Vivo com essa dúvida incerta,
A vagabunda dos tempos alheios.
Respiro uma força que aperta
E que fomenta os mais obscuros receios.

Destino que houver é derrotado
Pela obra destes ilusionismos tão feios.

Já não sei que faça
Para destruir em mim este pensar.
Ao evitar a desgraça
Deixo esta dúvida vadia proliferar.

Para eu poder ser, não quero desistir.
Quem sabe um dia a emoção vá finalmente ganhar.

19 de março de 2011

Amanhecer

Correm os rumores
De correr um amanhecer
Encurralado por corredores
Do medo e do desprazer.
E na correria foge a luz do dia
Desta hipócrita e fraca utopia.

Sente-se de forma doente
Um sentir já apagado
Pelo sentimento deprimente
De viver-se desmotivado.
Não existe sentido que resista,
Perdemos a nossa essência humanista.

A nossa vontade, corrompida,
Descai de forma furiosa
Nessa bela manhã adormecida
De inocência silenciosa.

Sabendo o que sei agora,
Deixarei o sol nascer.
Não quero deitar a alma fora,
Vou finalmente adormecer.

15 de março de 2011

Dor que sorri

Todas as manhãs acordo dorido,
Todas as manhãs me levanto sofrido
Das gotas de orvalho por cair
E de cada canto de pássaro tremido.

Todas as noites adormeço ao luar,
Todas as noites me afogo no mar
Das traquinices dos sentimentos
E de cada vento que me proíbe de voar.


É uma dor permanente e sarcástica,
É um ardor que o coração bombeia em mim,
É uma dor de sentir forte e fantástica.

Sorri para mim, dor de sentir e viver,
Sorri e dá-me provas para continuar,
Sorri para das tuas cinzas eu renascer.

11 de março de 2011

Suicídio mental

Não consigo dormir. Voraz é a chuva de pensamentos que assolam os campos da minha mente. Estou aqui enquanto eu, não enquanto personagem ou autor, escritor ou ignorante. Fazia mais falta, haver sinceridade assim, tão nua que quase poderia ser censurada indevidamente.
Várias razões me trazem cá, vários fragmentos e estilhaços do espelho da minha alma que ora me atormentam, ora me sustentam. Sentir é fácil, bastante simples até. Aquilo que fazemos com esses sentimentos, contudo, é algo completamente diferente. Instinto é algo automático, prático, muitas vezes errado, nada tem a ver. Nós é que "decidimos", por cada sentimento que nos invade, as acções mais dignas ou infiéis a associar ao mesmo. Aí é que falha a mente humana, não é prática. Está a tentar transparecer a teoria através dos sentimentos e muitas vezes cai, arrasta-se pela gravilha do desgosto. Mas o problema principal não será esse. O pesadelo surge quando se criam as perguntas: E agora? O que fazer?
Decisões rapidamente se tornam espadas afiadas que podem triunfar sobre o inimigo ou trespassar o próprio coração. Admito, enquanto ser humano, que não é fácil lidar racionalmente com aquilo que se sente. Dou por mim a procurar a felicidade em mim e nos outros, é um objectivo bonito, correcto? Pois bem, o que acaba por acontecer é eu ter que sacrificar a minha felicidade para, pelo menos, ver os outros felizes. Não é um bom final para mim, mas pelo menos já me consola o facto que ajudei alguém. Pena que nunca soube ajudar-me a mim mesmo ou que alguém soubesse estender a mão. Não importa quantas vezes erramos ou quantas vezes voltamos a cair, porque alguém nunca poderia ser julgado por isso. O que se decide fazer após a queda é que é importante, a força e a honra da alma transparece por cada acto nobre que cometer, ou por cada acto maldito que evitar. Ninguém é invencível e pode pedir ajuda para ultrapassar as intempéries.
O granizo de dúvidas cai fortemente no poço do meu ser, abalando a própria estrutura. Pergunto-me porque me preocupo tanto com o mundo, sendo tão despreocupado comigo mesmo, deixando-me à deriva por entre as ruas escorregadias da desilusão, onde cair é a coisa mais certa. As minhas decisões e actos podem não ter sido sempre os melhores, mas foram meus e orgulho-me disso. O maior desafio pessoal será admitir os erros e, principalmente, aquilo que se sente. Nunca tive medo por medo, nunca me escondi para não dizer o que sentia. Mas a falta de resposta agonizou-me. Deixou-me petrificado. Quando acreditava que estava a lutar pela minha felicidade, estava apenas a preparar a minha alma para levar mais uma facada nas costas. Existem coisas que se merecem, coisas que não se explicam, coisas que apenas existem. Sorte, ou falta dela, é o conjunto de tudo isso. Não existem pessoas azaradas, existem pessoas conformadas com o azar.
Não estou infeliz. Não estou feliz. Não sou frustrado nem sereno. Tenho dias para tudo. Nunca pensei terminar a minha vida porque assim estaria a desperdiçar o meu já escasso tempo. Ser-se feliz ou infeliz não é nem nunca será plausível neste mundo por razões óbvias, nada é constante, tudo muda. Talvez por isso seja tão difícil engolir a forma de viver estática dessa gente que por aí anda dizendo-se racional mas não pensa, não duvida, não auto-critica. Vive tão ocupada com o materialismo, com o que diz respeito aos outros e não consigo, com a luxúria, enfim, é um caso perdido. Culpa nossa, não soubemos dar valor quando havia pouco, muito menos saberemos agora na abundância. Ninguém precisa de gritar alto e bom som que somos doentes psicológicos em estado crónico , apenas se pedia que não fossem cegos e surdos e que tivessem consciência activa.
Não sei o que fazer a seguir. Tenho vários assuntos ainda em suspensão na minha consciência. Tenho vários estilhaços ainda bastante dispersos no espelho da minha alma. Ontem já foi embora, amanhã ainda não chegou. Não sou de desistir nem vou pensar em fazê-lo, em qualquer situação desta solene vida. A busca pelo amor no plural e pelo momento certo para dizer "Estou feliz!" irá continuar. Mas hoje já é tarde. Dei muito trabalho a esta mente já por si só demasiado exercitada. Fico de luto por ela, pela sua consideração para com esta humilde pessoa e pela prosa que sustenta os meus porquês de viver. Espero o dia em que voltarei a ver a mente rejuvenescer com forças para enfrentar mais um episódio, mais um desafio. Espero o amanhã.

10 de março de 2011

Os tontos

Adia-se o promulgar da lei dos tontos
Apenas por mais umas centenas de anos.
Aquando disso vão sendo tapadas com panos
As verdadeiras histórias por entre os contos.

Com tanta sanidade mental, eu enlouqueço.
Cerquei-me de dúvida e de carência
Crendo que ainda encontraria paciência.
Contrariou-me esse mundo de tontos que tanto esqueço.

São tontos porque são deliberadamente profanos.
São tontos mesmo quando usam a mente.
São tontos porque ninguém diz o que sente.
São tontos porque...bem, são humanos.

Agora o mundo enlouquece de dentro para fora.
Agora o espectador vê por entre o acto principal.
Agora ele, sendo eu, sabe que não há final.
Agora já é tarde, o amanhã foi-se embora.

9 de março de 2011

Abraço

Bateram à porta do meu consciente.
Abro o cadeado do orgulho e do medo.
Não sinto presenças, foi um jogo da mente.

Ouço vozes a discutirem no meu interior.
Abro a minha alma e encontro silêncio.
É assim a solidão, o meu filme de terror.

Batem à porta do meu subconsciente.
Não sei abrir, nunca tive essa chave.
Desta vez uma voz não desaparece, é persistente.

Dias iguais passam por entre o meu cansaço.
Aquela voz anónima não vai embora.
Aqueceu-me o corpo com o seu invisível abraço.

Aproxima-te, desta vez não digas nada.
O teu dialecto passou por entre a minha destruição.
Vamos mostrar como se faz para haver paz restaurada.

Aproxima-te, abraça-me, traz-me o teu calor.
Liberta-me dos cadeados que o sofrimento me deu.
Volta a ensinar-me como se sente o amor.

8 de março de 2011

Unchained emotions

The world's heart has long been at a standstill.
Man's soul has long known how to remain tranquil.

Emotions have been chained for being deemed too dangerous.
In truth, the mind has always been the most treacherous.

We constantly chase the silhouette of perfection.
Wanting the impossible can be either fuel or destruction.

We're just as bloodthirsty as our past.
Our obsession to fix the inevitable just lets us sink fast.

Our hopes and dreams left us undone
Because we stupidly learned to keep none.

Our suffering is only ours to blame.
By chaining our emotions we put out our inner flame.

I wonder why we chose to live in the dark.
I wonder why we decided to be like dogs that can't bark.

I learned to listen to my heart and dream.
I learned to deal with my pain and just scream.

So kiss while your lips are still red.
Enjoy the moment, don't let it cause you dread.

Unchain your emotions and you will feel free.
Let go of your problems and hold on to me.

Let us explore what's beyond fear and sorrow.
Let us live today to have a better tomorrow.

7 de março de 2011

Velejadores de outrora

Viemos do mar,
Nascemos na areia.
Vamos no oceano navegar
Com esta alma que guerreia.

Contemplámos os profundos
Sem medo do desconhecido.
Do mundo criámos mundos
que deixou o orgulho enternecido.

E no entanto somos agora escravos,
Perdemos-nos em tanta terra seca
Que apazigua os valentes e bravos.

Talvez seja hora de voltar a velejar,
(re)Descobrir o único mundo que falta.
A nossa emoção e a capacidade de pensar.

3 de março de 2011

Veneno da racionalidade

A espuma do rio traz o que foi esquecido.
Arrastou os restos de vida que mais ninguém quis.
Tantas histórias e esperanças atiradas à água
Repleta de antigas boas vontades, tornadas agora vis.

Cai mais um ramo de velhos espinhos do canteiro,
Feridas cristalizadas ao longo dos ramos da mente.
No final está a rosa que quer colher o guerreiro
E também o verdadeiro teste à sua força de sentir.

Voa timidamente o pássaro pelas brisas da calma.
A tempestade não demora, ela vem para o devorar
Com a sua chuva de transtornos que consome a alma.
Quem receia libertar-se nunca vai saborear nada.

Desfazem-se os escombros do ser na escuridão
Enquanto ele se entrega à sua última balada.
A canção da vida irá agora desvanecer-se
No horizonte da fala tremida e inacabada.

Tanto que se iludem os ilustres e decadentes
Pensando que o problema da vida é viver.
Na verdade são eles os únicos toxicodependentes
Desse veneno que os destrói, o seu ego e cegueira.

E enquanto o desconhecido assusta como agulhas
Os becos mentais insustentáveis dos demais,
Eu vejo a doença da racionalidade propagar-se
Por entre actos e falas destas mãos mortais.

Have my heart

Trudging in the darkest abysses of the mind
There has not been a soul to call my own.
No matter how hard I try to remain kind,
Hope hasn't lifted but my heart has flown.

Torn apart by time, these memories strive
To destroy the reasons that make me mourn.
I'm waiting for you to finally arrive
And nullify the emptiness I have always worn.

There is nothing left in the winds for us,
The heavens created these feelings, thus
Let there be one final spectacle in this circus.

Have my heart, I long let it find its way,
To the someone that wouldn't let it go astray,
To your shadow, standing there in my dark pathway.

1 de março de 2011

Sonhar [ aniversário do blog: 1 ano! ]

Tão fácil que é, viver estando já morto.
A besta humana sempre foi boa a perder controlo,
Leva um caminho a direito que dá para o torto,
Procura forma de afundar no próprio desconsolo.
Tantos milhares de anos necessários
Para abrir a mente a estes mercenários?

Cedo comecei eu a sonhar com o mundo,
A vislumbrar toda a matéria das emoções.
Num mar de palavras e imagens me circundo
Para me perder destas mentais obstruções.
Nada no entanto me podia salvar da agonia
Que foi viver na escuridão em plena luz do dia.

Já fui abatido, já fui desprezado pelo meu eu,
Escravo da tristeza constante e conformista.
Ninguém é imune àquilo que é apenas seu,
A maior guerra é enfrentar a nossa face pessimista.
Apenas quem for mesmo dono da sua história
Pode dominar os monstros da sua memória.

Observo cegos perdidas por entre as ruas,
Crianças pobres a sorrir com sentimento.
Vestem os sonhos que deixam as pessoas nuas,
Vêem para além do azar e encontram contentamento.
Pois todos somos condenados ao mesmo final
Mas a consciência dos demais cai como a cal...

Nesta terra cada um é vítima do consumismo,
Essa sanguessuga que nos adormece a mente.
Pensar só em si é uma vitória do cinismo,
A sociedade não quer ver e não sente.
As nossas motivações advêm dos sonhos,
Sem eles somos apenas animais enfadonhos.

Sonhar é ver o horizonte e ignorar o precipício,
É tropeçar numa pedra e rir da trapalhice,
É errar, aprender e não cair no vício,
É crescer mesmo quando se atravessa a velhice.
Soubessem todos pensar sem quaisquer tremores
E o mundo teria menos pessoas e mais sonhadores...

...
Parece que já passou um ano. Apesar do ano ter sido difícil, na escrita, parece que foi ontem que tudo começou! E acho que depois de tanto dissabor e prazer, será justo incentivar, não só a mim com o sonho de continuar a escrita, mas também quem me incentivou a criar estes humildes murais de palavras.
Agradecimento muito especial à Sílvia Almeida, a maior apreciadora de todos os tempos. Nunca foi preciso mais que palavras entre nós para que a compreensão fosse mútua...um grande obrigado. ^^
Quero também agradecer à Lara Prudêncio, que apreciou os meus primeiros textos e mesmo distante sabe bajular-me de uma maneira mais poderosa que as próprias letras!
Agradecimento à minha Amoura aka Filipa Manteigas, que muitas vezes tirou-me dos escombros da minha angústia e ajudou-me durante tempos difíceis no meu interior. Também me inspirou em alguns dos posts!
Agradeço também a todos os que decidiram seguir o meu blog, eu não esperava nem hei-de esperar uma grande audiência, esse nunca foi o meu objectivo. Serve apenas alguém identificar-se com o que escrevo à sua maneira, interpretando e dando carinho aos significados fortes e subtis.
De resto, agradeço a mim...por ter decidido ir em frente com isto. Até ao próximo post! (:

23 de fevereiro de 2011

Interior

A vida é feita de nadas.
Procurei, vasculhei, no lixo de vida nadei,
Em vales e rios de matéria me desloquei.
Coloquei-me à frente do que se vê
Para encontrar o meu ser genuíno,
O elixir mortal de poder divino.
A música ecoou por entre o meu silêncio
E descobriu o meu vasto interior,
A minha timidez sem qualquer pudor.
O mar afogou-me com um profundo
De significados ocultos e distantes,
Alojados nestas veias coagulantes.
Sentimentos são como o vento
Que pode vir calmo e sereno,
Como faz a vida parecer veneno.
O meu interior é uma alma
Que muito poucos saberão ver,
E ainda menos poderão entender.
Os sonhos são o meu sangue
E correrão para sempre na minha mente
Fogosa, eterna, e livremente.

14 de fevereiro de 2011

Andar com o mundo às costas

Começo por começar, não tenho forma de começar melhor. Não tenho forma de todo. O peso destas nuvens psicológicas pareceria minúsculo, não fossem elas carregadas de chuva, chuva que torna escorregadio o piso por onde passa tanto pensamento. Quando acreditar que todo aquele asfalto percorrido pode ter sido em vão, aí, terei tropeçado. Várias vezes.
Nem a poesia consegue ser agressiva o suficiente para derrubar o significado de andar parado. Porque estar parado é uma opção, andar sem se mover é uma prisão. Estar parado é querer morrer, andar e não se mover é estar condenado à morte. Estar parado é decidir que um exemplo não basta, andar parado é o único exemplar que existe. Ser rude é tão acima, ser apenas firme é tão abaixo.
Andei, andei e continuei a andar. Estou em perpétuo andamento. Mas indubitavelmente, parece que o mundo vai mais rápido. Tão rápido que me sinto no mesmo sítio, perpétuamente. Castigado pelo tempo a ver todos os demais passar por mim, inconscientes, altivos, provavelmente a olhar e ver apenas chuva. Sim, a mesma chuva que faz tropeçar. A chuva que para eles apenas molha, evapora e assim prossegue. Mas que a mim atormenta.
Enquanto me destruí mentalmente vezes sem conta por todas as decisões que devia ou não devia ter feito, o mundo mudava, com a mesma despreocupação de sempre. Despreocupação que eu não conseguia atingir, que a porta de entrada não deixava ver. Por alguma razão a chave nunca existiu ou apenas nunca foi encontrada, não sei, tantas gavetas dentro desta cabeça desordeira e ineficazmente posicionadas, é possível. Tantas coisas já me deixavam ocupado, varrer o chão das desilusões que foram deixadas por "humanos" (ninguém é asseado hoje em dia...), limpar o pó à caixa-forte avermelhada cada vez mais atordoada, deitar fora todas as noites em que chegava sempre à mesma conclusão. "Não chega" (talvez devia ter usado mais lubrificante...mental).
Existe apenas um compartimento que resiste ao apodrecer, no meio de tanta cicatriz profunda. Não existem sentimentos que o apaguem, tempo que o enfraqueça, chuva ácida que o desgaste. O compartimento da alma é livre e excepção, é magia sem poção, é motor livre de combustão. É rima sem poema, legenda sem esquema, assunto sem tema. Devo-lhe a existência não apenas física e limitada, devo-lhe a força. É no ridículo que se encontra o caminho, é da descrença que se encontra uma forma de acreditar, é no meio de duas ruas...que se encontra um atalho (as paredes também enganam. Um pouco como as pessoas, mas mais [di]rectas).
Muitos não vão entender a expressão de "andar com o mundo às costas", talvez porque não saibam ver nem imaginar outra coisa que não alguém que tem tudo em cima de si. Pelo contrário, não possuo nada, não sou nada, eu sinto-me constantemente parado enquanto ando à procura de sentido em tudo aquilo que deveria fazer sentido...pois, não tenho mesmo jeito a guardar chaves, apenas vislumbro cadeados e cofres. Mas hei-de encontrar, hei-de ser, hei-de conseguir.
O mundo está às minhas costas porque ele evolui, e eu? Bem...por enquanto eu fico com uma valente dor nos ossos!

7 de fevereiro de 2011

Identidade

Perdi o meu espelho visual.
Sou mais uma sombra por entre a luz escurecida.
Sem face, sem recordações nem perspectivas.
Sou mais um que equivale a zero,
Uma soma nula ao mar de faces anónimas.
Já não me vejo a ser, somente a querer tornar-me
Em algo mais que isto ou menos que aquilo
Num desenfreado tormento calmo e impetuoso em mim.
Encontrei vários reflexos cegos que não me pertencem,
Vários eus quebrados em tus desconhecidos.
Vieram perante mim com toda uma vida igual e indistinta
Que me levou aos recantos do nada
E aos segredos de uma vontade extinta.
Pobre rima equivocada aqui desamparada
Sem existência pura com força desancorada
Sarcastica e propositadamente largada
Pelo orgulho do meu ninguém acompanhado do ser eu.
Farto que estou de ser gente.
Insulto, ser entregue à impotência do conceito do limitado
E ao destino dos cadáveres deambulantes nas ruas.
As minhas escolhas nunca foram as tuas
E de novo vem a rima mostrar a sua individualidade
No meio de tanto discurso disperso e de disparidade.
Por entre esta crise de identidade atordoada pelo viver
Entre o que vai sendo meu e o que é meu por direito
Vem tudo o resto, vem portanto tudo.
Condenem-me enfim
Enquanto a rima olha para mim
E me diz que o igual para todos não tem que ser assim.
Eu sendo eu, apenas tenho que aprender a ser,
Um foragido de todos os significados que implicam o existir.
Identidade que seja minha já lá está, intrínseca no meu viver.
A diferença vai até onde eu querer, e se eu quiser,
Se eu quiser...pego na minha rima. Já poderei partir.

24 de janeiro de 2011

Formas de expressão

Comunicação em putrefacção.
Mundo entristecido e mudo.
Comunicar, uma aberração.
Um nada cheio de um doentio tudo.
Espero e vou ficando
Com todo um dia-a-dia
Em que o falar é contrabando
Nesta depravada utopia.
Compaixão sem expressão.
Vida ignorada e muda.
Sentir, uma obsessão.
Uma verdade demasiado desnuda.
Acredito e vou gritando
Com toda uma afonia
Em que a força vai faltando
Nesta inexorável agonia.

Prefiro falar a escrever
E a sentir o que digo
Pois sentir é viver
E o viver é meu amigo.

11 de janeiro de 2011

Sem palavras...

...me encontro, sem rascunhos que sejam.
Sem voz me vejo, sem palavras que me protejam.
Estou sozinho no mundo dos defuntos
Onde as palavras perdem-se na calçada.
Lançam-me vestígios de velhos assuntos
A toda uma vida sem cara e desfocada.

A toque de sarcasmo se gira o leme
Por mares imorais e dispersos
De palavras que não existem.
Palavras em mim subsistem
Mas nada sai destes lábios submersos
E o gesticular vai, a mente treme.

Galanteio a paisagem do costume
E vislumbro o papel na secretária.
A pena é um mundo que se exume
Das prosas e poesias de sede imaginária.
Estar sem palavras levou-me ao local
Onde eu respiro o escrever intemporal.

6 de janeiro de 2011

O desconhecido

Por vezes viver significa deixar a vida passar.
Conhecer-me é uma ilusão difícil de se lidar.
A vivência impessoal é uma cicatriz do ser,
Invade o estranho, invade bem lá dentro.
Somos uma peça de todo um puzzle a desfazer.
Ao atravessar as águas tumultuosas da experiência,
Cruzei-me com o desconhecido dos profundos.
Dizia ser eu sem as blasfémias da vida,
Sem as negras marcas do mundo da indecência.
O descrédito é lei na terra da hipocrisia.
O corpo acompanha o que a alma já perdeu.
A única serventia da vida é poder morrer
E perder o desastre que é afastar-se da mente.
Por fim deixei-te, desconhecido, ocupar esta vida vazia.
Corrompeste o negativismo com a tua inconformidade,
Sabes todas as minhas fraquezas e forças,
Lançaste ao nada tudo o que me resta
E agora sou eu, sem tristeza nem felicidade.
Apenas eu no mundo mundano e imundo.
Conheces-me melhor que eu próprio, desconhecido.
Tornaste o meu mundo um poço de esperança sem fundo.
Recriaste o que não podia haver ou existir.
Pegaste nas mãos e fizeste-me novamente sentir.

Que o único desconhecido em mim sou eu, e que basta conhecer-me, para voltar a acordar todos os dias com toda uma nova vontade.