22 de abril de 2011

Reflexo trocista

Ainda não me vislumbraste e já me cobiças, escritor.
Tu e todos os ignorantes que passam por ti
Como rebanho controlado à distância pelo pastor.
A tua revolta poética bajula-me sem cessar.
Invejam-me tanto, os teus "amīcus sapiens",
Acham-se melhores que um mero reflexo no mar.

Pois surpreende-me o quão rápido se conseguem afogar.
Uma imagem que não pensa, até no pensamento os supera.
Apenas tu entendes como o reflexo acalma a fera.

Bajulo-te, escritor, da minha troça fizeste da poesia o espelho da alma.

[ Vivemos constantemente atrás da nossa própria sombra, a lutar para ser melhor que um mero reflexo...tentamos tanto ou tão pouco, que uma mera imagem nos parece imortal e poderosa demais para ser superada. Mas tentar hierarquizar a potência da imagem é uma fraqueza. Nós somos aquilo que vemos, nem mais, nem menos. Acho que já chega de perseguir espelhos...certo? ]

17 de abril de 2011

É simples

É simples, apenas nós teimamos.
É fácil, somos nós que complicamos.
Os fracos são fortes e os fortes são fracos,
Todos somos iguais, cada um é apenas cacos.

Uma mera porção de ser, uma reflexão
No espelho da vida. Presos na sua emoção.
Não sabem ver o quão simples pode ser,
Na adversidade ou na fartura, só basta viver.

Quantos mais milhares de anos irão passar?
Sou humano, decerto, não nasci deus luso.
Mas tenho consciência, tenho sonhos a fervilhar.

Por isso não compliquem, não vivam presos.
Quem nasce perfeito não consegue evoluir.
Acordemos do sono que arrefece os sonhos acesos!

[ Acho que saber viver não é ultrapassar as adversidades nem é poder ser feliz para sempre. Viver é amar e sofrer, ganhar e perder, lutar e fugir, pensar e sentir. Não podemos tentar ser mais altos que o pódio nem querer ficar eternamente debaixo dele. Se quisermos aprender, temos que esperar o pior, fazer o melhor, absorver os erros e irradiar emoções, para não sermos presos na emoção ou no pensamento. Tudo é fácil, só será difícil se não houver consciência. Acordemos! ]

12 de abril de 2011

Não sei

Sou determinação, força de mente.
Sou amor, caneta da poesia.
Sou inconstante, força de maré vadia.
Sou humano, apenas temporariamente.

Fora para dentro, dentro para fora.
Largo a mão da fúria repentinamente.
Caio em vergonha, levanto-me novamente.
Não se deve temer a emoção do agora.

Erro, é essa a consequência de ser.
Vou erguer-me, vou tornar-me caneta.
Prepara-te, poema, estou a chegar.

Amor, tornarei a fazer-te escrever.
Determinação, mostra-me a tua silhueta.
Vai chover tinta, o meu humano vai amar.

[ Por vezes, temos amor em nós que se exalta e é expelido de forma colérica e inconsciente, tal podendo magoar os outros ou até nós próprios. Não se sabe, muitas vezes, que tal o é. Consciência, calma...as palavras resolvem. Os verdadeiros laços não se destroem facilmente. ]

8 de abril de 2011

Adormecer

Aqui jaz a última esperança na Humanidade.
Sinto a minha lucidez a entrar em coma,
Sinto-me uma flor sem aroma e sem vontade,
Pretexto fingido num mundo sem verdade.

Aqui vive um coração despido e desfeito.
Um sorrir em mim consegue persistir,
Um vento que arranca as raízes do preconceito.
Sei que não vim ao mundo para ser perfeito.

Aqui adormecem os olhos da escrita.
Ela sabe que não sou só uma vítima.
Ela aplaude esta fonte de inspiração infinita.

Adormeço enfim neste berço sentimental.
Talvez seja apenas um mortal com sonhos,
Talvez seja um sonhador de alma imortal.

1 de abril de 2011

Dúvida vagabunda

Tive o mundo nas mãos
E as mãos me fugiram.
Nos meus momentos mais sãos
As vozes interiores conspiram.

Sou um inocente que vive culpado
Por todas as dores que não lhe feriram.

Vivo com essa dúvida incerta,
A vagabunda dos tempos alheios.
Respiro uma força que aperta
E que fomenta os mais obscuros receios.

Destino que houver é derrotado
Pela obra destes ilusionismos tão feios.

Já não sei que faça
Para destruir em mim este pensar.
Ao evitar a desgraça
Deixo esta dúvida vadia proliferar.

Para eu poder ser, não quero desistir.
Quem sabe um dia a emoção vá finalmente ganhar.