19 de maio de 2014

Cadeados e trancas

Sonhador desta realidade descaída,
Do meio sem meia medida,
Ouvi-te com a voz que não faz som.
Alheio à realidade estarrecida,
Eis que te vi, num vislumbre de vida
Que sabia ser tão raro,
Sabia por tê-lo visto.

Sonhador da caixa vermelha em riste,
De tranca entrançada e triste,
Senti a tua alma vacilar.
Tanta força que persiste,
Não há vontade que diste
Aquilo que eu vi,
Como uma febre de vida.

Sonhador, oh sonhador,
Do sonho arrancaste o fervor,
Destruí o cadeado sem saber.
Agora com o sol a pôr,
Não há clamor
Que renegue o teu direito,
A chave sempre te pertenceu.

[ Não sei se saberei alguma vez explicar isto...apenas que a caixa-forte e vermelha de cada um, o nosso coração, funciona de maneiras que não se explicam. Faz-nos actuar sem saber o papel, faz-nos avançar quando estamos parados, faz-nos ter esperança quando a mente há muito desistiu. Sonho com o dia em que, das poucas chaves que entreguei ao longo da minha vida, uma abra a minha tranca...e ela nunca mais volte a fechar. ]