30 de setembro de 2010

Ter tempo

Tem tempos em que me questiono realmente o que será ter tempo.
Tempos em que o tempo me deixa confuso e sem tempo para pensar noutras questões.
Há muito que tempo perdeu o seu verdadeiro valor e sentido.
Já lá vai o tempo em que o mundo não tentava lutar constantemente contra o tempo.

Mas os tempos mudam...

As pessoas vivem constantemente na tentativa de manipular o tempo.
Mantém uma infinita obsessão de querer manipular tudo sem aparentes razões.
Sempre a tentar controlar aquilo que não pode realmente ser obtido.
Tanto esforço quando na verdade são elas manipuladas pelo desejo de ter tempo.

E os tempos circundam...

Talvez seja tempo de tentar perceber o porquê de se perder tanto tempo.
Como se consegue viver em liberdade e contudo nos sentirmos em tamanhas prisões.
Porque se vive num limbo onde já não há coração completo ou partido.
Somos engolidos pelo mundano e perdemos a oportunidade de saborear o tempo.

Com os tempos aprendam...

É finalmente tempo de parar de tentar depender exclusivamente do tempo.
Tanta necessidade irracional de ter tempo para arranjar justificações.
Se o tempo sempre lá esteve, vocês perdem a vossa vida com fundamento perdido.
A vossa mentalidade ensinou-se uma coisa valiosa sobre como ver o tempo.

Afinal os tempos também findam...

Destroem-se os tempos por questões mesquinhas como não saber usar o tempo.
Tempo perdido por não viverem as coisas simples sem atritos ou escoriações.
Tempo sem ser tempo, tempo com falta de tempo, tempo que é perdido.
Se ao menos perdêssemos algum tempo para dar espaço ao tempo...

Hoje em dia temos tempo para tudo; tudo excepto termos tempo para ter tempo.

28 de setembro de 2010

Capítulo em branco

Como começar tudo.
Nesta biblioteca de almas, nestas estantes fixas e insólitas,
As palavras têm o poder, o mundo está em movimento.
Nesta biblioteca de vida, nestes alicerces que comportam cada ser,
Os capítulos são inúmeros, cada um expressa cada acto e sentimento.

Como continuar tudo.
Na imensidão dos pensamentos alheios, nas entrelinhas do certo e do errado,
O medo controla tudo, é senhorio da ignorância e dono dos fracos.
Na imensidão dos sentimentos, na dimensão oculta desse nosso cavaleiro alado,
O coração evidencia-se, o fraco é forte, a escravidão mental é um mito.

Como terminar tudo.
Cada capítulo é uma história de amor, um trabalho de sucesso, uma desilusão pessoal,
Uma etapa ultrapassada para se poder ter uma nova aventura escrita.
Cada capítulo é um mistério trapaceiro, uma palavra que se perdeu e não foi dita,
Um conjunto de jogos frontais e subtis que se enfrenta para chegar ao final.

Este capítulo não estava escrito.
Alguém se esqueceu dele, entre outras tantas fantasias ainda por viver,
Entre outros contos dramáticos e sentimentais que nos estilhaçam o coração.
Alguém se lembrou dele, por ser tão vazio, cheio de potencial e sem dono,
Por poder dar o privilégio a esta alma de ter pelo menos um capítulo em branco onde escrever.

18 de setembro de 2010

Confissões de um poeta (ir)racional

Tenho várias confissões a fazer. O meu confessionário é tão simples quanto um pedaço de papel com linhas. A vítima é a escrita...ela também sofre tanto quanto eu, entende-me, transfere toda a angústia, todo o descontentamento, sem alguma vez pedir algo em troca, sem nunca hesitar em mostrar a verdade pura e dura.
O pesar destas letras é profundo e intransigente. Estes assuntos ultrapassam a minha capacidade mental e da alma. Tudo o que acontece ganha forma e contexto específicos, nada aparenta ser ao acaso. É perturbador. O entrelace de tudo o que é bom e mau pode ser difícil de interpretar, mas tudo possui uma razão para acontecer. Acreditar nisso é como que uma chave de ouro.
Confesso que não tenho medo de cometer loucuras. Confesso que esse facto contrai medo em mim. Medo de que a desconfiança, a insegurança ou até a paixão me façam perder a visão das coisas com clarividência e preponderância. Confesso que não tenho medo de lutar até ao fim por um sentimento em que acredite inequivocamente. Confesso que tenho medo de descobrir que posso estar, no entanto, a lutar em vão. A traição incumbida pelo destino é bem mais dolorosa e muito menos fácil de contrariar.
Este conceito justiça tem interesses ambíguos. Por vezes o coração não tem culpa de ser contra o destino e querer que o impossível aconteça um dia, tem apenas uma vontade inocente de se sentir completo e verdadeiramente funcional. Como podemos nós contrariar tanto impasse se tentamos sempre chegar mais longe? O que nos falta para conseguir atingir o próximo passo?
Confesso que por vezes nem sei como não paro de escrever, como consigo confessar-me, assim, desta forma, sem fraquejar, sem pensar duas vezes no que poderá sair, sem medos. Mas com tantos medos dentro de mim. Confesso que não consigo entender o conceito tão relativo de "sociedade". Parece que vivemos num mundo em que, sendo todos iguais, nos tratamos como se de espécies diferentes fossemos oriundos. Não se compreende.
Confesso que penso demasiado no futuro e no passado. Penso sem pensar e penso como respirar. Penso a sonhar e pensamentos estou sempre a suar. Confesso que tenho aversão a todos os que não pensam nem ponderam, não querem saber, vivem por viver, alheios aos problemas tão óbvios que os rodeiam. Se pensar em excesso é um problema, creio que a falta de pensar é igualmente grave.
Vive-se uma vida que deixou de o ser há bastante tempo. Tantos que de forma imatura assumem que não precisam de amar ou sentir para viver, que os sentimentos são o que nos tornam fracos e susceptíveis à dor e à desilusão. Ninguém precisa de amar para conseguir sobreviver. Mas todos nascemos com a capacidade para amar e querer alguém, e isso não pode ser negado, nunca.
São todos loucos irracionais por pensarem que se conseguem ver livres das emoções assim...esquecem-se que sem mente e sem sensibilidade, não existe evolução! Posso ser um louco como eles; mas se me pedirem para escolher entre ter uma vida sem coração, ou um coração sem vida, eu escolho um coração sem vida...prefiro saber sentir, pois sem o meu coração, confesso que eu já estaria morto faz muito tempo...!

8 de setembro de 2010

Memorial do sentimento

Convidei o amor a entrar.
Várias vezes me fez esperar.
Contrariei a vontade de não ficar.
Apenas para não ver a pedra e tropeçar.

Presenciei a falta de presença.
Desse sentimento de que tinha tanta crença.
Dessa vontade de gostar tão propensa.
De quem está sozinho no meio da desavença.

Tenho medo da possibilidade de ter medo e tornar-me insensível.
Não sei se me conseguirei levantar em cada queda imprevisível.
Como vou entregar-me à sorte se sou apenas mais um pedaço de carne comestível?

Só sei que preciso de tentar sempre esquecer.
Só sei que tenho de continuar a tentar viver.
Só sei que para este mundo vou continuar a escrever...

2 de setembro de 2010

Chuva de verão

Dizem o dizer.
Nunca dizem o fazer.
Tanto cuidado para não ceder,
Se no final lutar é perder.

A chuva não cai por cair.
Ela não tem por onde fugir.
A vontade de chorar e partir,
O sacrifício de ter que existir.

Ter que caminhar por esses caminhos raiados,
Descobrir que se caímos logo somos sugados.
Sorte a de quem vive com os sentimentos trancados,
Fortuna desses que ainda são mais amaldiçoados,
Que nada foram e contudo de nada são privados.

Coitado do destino por ter que ser tão cruel.
Deixar o mundo viver e esta chuva atada ao cordel.
A justiça provou que tem que haver abelha e o seu mel.
Ambos estarão eternamente ligados de forma infiel.
Cada um é como que um guerreiro sem o seu corcel.

Tanto por dizer e há tanto que falar perdeu a vida.
Poderia haver uma tempestade mas seria logo sacudida.
Esses raios de sol privaram a nossa já tardia partida.
Somos consumidos pela indiferença da calçada aquecida.
Percebemos que a nossa presença não é clara e assumida,
Passámos a meros vestígios apagados no meio da corrida.

O sentimento faz pesar essa vossa leve consciência.
Não percebem que a chuva sempre teve consistência.
Que nunca fomos menos importantes na nossa ausência.
O vosso problema é não compreenderem a nossa vivência.
Podemos parecer pontos minúsculos sem qualquer congruência.
Mas somos diferentes por possuir algo que luta contra a vossa demência:

Um coração !