19 de março de 2011

Amanhecer

Correm os rumores
De correr um amanhecer
Encurralado por corredores
Do medo e do desprazer.
E na correria foge a luz do dia
Desta hipócrita e fraca utopia.

Sente-se de forma doente
Um sentir já apagado
Pelo sentimento deprimente
De viver-se desmotivado.
Não existe sentido que resista,
Perdemos a nossa essência humanista.

A nossa vontade, corrompida,
Descai de forma furiosa
Nessa bela manhã adormecida
De inocência silenciosa.

Sabendo o que sei agora,
Deixarei o sol nascer.
Não quero deitar a alma fora,
Vou finalmente adormecer.

15 de março de 2011

Dor que sorri

Todas as manhãs acordo dorido,
Todas as manhãs me levanto sofrido
Das gotas de orvalho por cair
E de cada canto de pássaro tremido.

Todas as noites adormeço ao luar,
Todas as noites me afogo no mar
Das traquinices dos sentimentos
E de cada vento que me proíbe de voar.


É uma dor permanente e sarcástica,
É um ardor que o coração bombeia em mim,
É uma dor de sentir forte e fantástica.

Sorri para mim, dor de sentir e viver,
Sorri e dá-me provas para continuar,
Sorri para das tuas cinzas eu renascer.

11 de março de 2011

Suicídio mental

Não consigo dormir. Voraz é a chuva de pensamentos que assolam os campos da minha mente. Estou aqui enquanto eu, não enquanto personagem ou autor, escritor ou ignorante. Fazia mais falta, haver sinceridade assim, tão nua que quase poderia ser censurada indevidamente.
Várias razões me trazem cá, vários fragmentos e estilhaços do espelho da minha alma que ora me atormentam, ora me sustentam. Sentir é fácil, bastante simples até. Aquilo que fazemos com esses sentimentos, contudo, é algo completamente diferente. Instinto é algo automático, prático, muitas vezes errado, nada tem a ver. Nós é que "decidimos", por cada sentimento que nos invade, as acções mais dignas ou infiéis a associar ao mesmo. Aí é que falha a mente humana, não é prática. Está a tentar transparecer a teoria através dos sentimentos e muitas vezes cai, arrasta-se pela gravilha do desgosto. Mas o problema principal não será esse. O pesadelo surge quando se criam as perguntas: E agora? O que fazer?
Decisões rapidamente se tornam espadas afiadas que podem triunfar sobre o inimigo ou trespassar o próprio coração. Admito, enquanto ser humano, que não é fácil lidar racionalmente com aquilo que se sente. Dou por mim a procurar a felicidade em mim e nos outros, é um objectivo bonito, correcto? Pois bem, o que acaba por acontecer é eu ter que sacrificar a minha felicidade para, pelo menos, ver os outros felizes. Não é um bom final para mim, mas pelo menos já me consola o facto que ajudei alguém. Pena que nunca soube ajudar-me a mim mesmo ou que alguém soubesse estender a mão. Não importa quantas vezes erramos ou quantas vezes voltamos a cair, porque alguém nunca poderia ser julgado por isso. O que se decide fazer após a queda é que é importante, a força e a honra da alma transparece por cada acto nobre que cometer, ou por cada acto maldito que evitar. Ninguém é invencível e pode pedir ajuda para ultrapassar as intempéries.
O granizo de dúvidas cai fortemente no poço do meu ser, abalando a própria estrutura. Pergunto-me porque me preocupo tanto com o mundo, sendo tão despreocupado comigo mesmo, deixando-me à deriva por entre as ruas escorregadias da desilusão, onde cair é a coisa mais certa. As minhas decisões e actos podem não ter sido sempre os melhores, mas foram meus e orgulho-me disso. O maior desafio pessoal será admitir os erros e, principalmente, aquilo que se sente. Nunca tive medo por medo, nunca me escondi para não dizer o que sentia. Mas a falta de resposta agonizou-me. Deixou-me petrificado. Quando acreditava que estava a lutar pela minha felicidade, estava apenas a preparar a minha alma para levar mais uma facada nas costas. Existem coisas que se merecem, coisas que não se explicam, coisas que apenas existem. Sorte, ou falta dela, é o conjunto de tudo isso. Não existem pessoas azaradas, existem pessoas conformadas com o azar.
Não estou infeliz. Não estou feliz. Não sou frustrado nem sereno. Tenho dias para tudo. Nunca pensei terminar a minha vida porque assim estaria a desperdiçar o meu já escasso tempo. Ser-se feliz ou infeliz não é nem nunca será plausível neste mundo por razões óbvias, nada é constante, tudo muda. Talvez por isso seja tão difícil engolir a forma de viver estática dessa gente que por aí anda dizendo-se racional mas não pensa, não duvida, não auto-critica. Vive tão ocupada com o materialismo, com o que diz respeito aos outros e não consigo, com a luxúria, enfim, é um caso perdido. Culpa nossa, não soubemos dar valor quando havia pouco, muito menos saberemos agora na abundância. Ninguém precisa de gritar alto e bom som que somos doentes psicológicos em estado crónico , apenas se pedia que não fossem cegos e surdos e que tivessem consciência activa.
Não sei o que fazer a seguir. Tenho vários assuntos ainda em suspensão na minha consciência. Tenho vários estilhaços ainda bastante dispersos no espelho da minha alma. Ontem já foi embora, amanhã ainda não chegou. Não sou de desistir nem vou pensar em fazê-lo, em qualquer situação desta solene vida. A busca pelo amor no plural e pelo momento certo para dizer "Estou feliz!" irá continuar. Mas hoje já é tarde. Dei muito trabalho a esta mente já por si só demasiado exercitada. Fico de luto por ela, pela sua consideração para com esta humilde pessoa e pela prosa que sustenta os meus porquês de viver. Espero o dia em que voltarei a ver a mente rejuvenescer com forças para enfrentar mais um episódio, mais um desafio. Espero o amanhã.

10 de março de 2011

Os tontos

Adia-se o promulgar da lei dos tontos
Apenas por mais umas centenas de anos.
Aquando disso vão sendo tapadas com panos
As verdadeiras histórias por entre os contos.

Com tanta sanidade mental, eu enlouqueço.
Cerquei-me de dúvida e de carência
Crendo que ainda encontraria paciência.
Contrariou-me esse mundo de tontos que tanto esqueço.

São tontos porque são deliberadamente profanos.
São tontos mesmo quando usam a mente.
São tontos porque ninguém diz o que sente.
São tontos porque...bem, são humanos.

Agora o mundo enlouquece de dentro para fora.
Agora o espectador vê por entre o acto principal.
Agora ele, sendo eu, sabe que não há final.
Agora já é tarde, o amanhã foi-se embora.

9 de março de 2011

Abraço

Bateram à porta do meu consciente.
Abro o cadeado do orgulho e do medo.
Não sinto presenças, foi um jogo da mente.

Ouço vozes a discutirem no meu interior.
Abro a minha alma e encontro silêncio.
É assim a solidão, o meu filme de terror.

Batem à porta do meu subconsciente.
Não sei abrir, nunca tive essa chave.
Desta vez uma voz não desaparece, é persistente.

Dias iguais passam por entre o meu cansaço.
Aquela voz anónima não vai embora.
Aqueceu-me o corpo com o seu invisível abraço.

Aproxima-te, desta vez não digas nada.
O teu dialecto passou por entre a minha destruição.
Vamos mostrar como se faz para haver paz restaurada.

Aproxima-te, abraça-me, traz-me o teu calor.
Liberta-me dos cadeados que o sofrimento me deu.
Volta a ensinar-me como se sente o amor.

8 de março de 2011

Unchained emotions

The world's heart has long been at a standstill.
Man's soul has long known how to remain tranquil.

Emotions have been chained for being deemed too dangerous.
In truth, the mind has always been the most treacherous.

We constantly chase the silhouette of perfection.
Wanting the impossible can be either fuel or destruction.

We're just as bloodthirsty as our past.
Our obsession to fix the inevitable just lets us sink fast.

Our hopes and dreams left us undone
Because we stupidly learned to keep none.

Our suffering is only ours to blame.
By chaining our emotions we put out our inner flame.

I wonder why we chose to live in the dark.
I wonder why we decided to be like dogs that can't bark.

I learned to listen to my heart and dream.
I learned to deal with my pain and just scream.

So kiss while your lips are still red.
Enjoy the moment, don't let it cause you dread.

Unchain your emotions and you will feel free.
Let go of your problems and hold on to me.

Let us explore what's beyond fear and sorrow.
Let us live today to have a better tomorrow.

7 de março de 2011

Velejadores de outrora

Viemos do mar,
Nascemos na areia.
Vamos no oceano navegar
Com esta alma que guerreia.

Contemplámos os profundos
Sem medo do desconhecido.
Do mundo criámos mundos
que deixou o orgulho enternecido.

E no entanto somos agora escravos,
Perdemos-nos em tanta terra seca
Que apazigua os valentes e bravos.

Talvez seja hora de voltar a velejar,
(re)Descobrir o único mundo que falta.
A nossa emoção e a capacidade de pensar.

3 de março de 2011

Veneno da racionalidade

A espuma do rio traz o que foi esquecido.
Arrastou os restos de vida que mais ninguém quis.
Tantas histórias e esperanças atiradas à água
Repleta de antigas boas vontades, tornadas agora vis.

Cai mais um ramo de velhos espinhos do canteiro,
Feridas cristalizadas ao longo dos ramos da mente.
No final está a rosa que quer colher o guerreiro
E também o verdadeiro teste à sua força de sentir.

Voa timidamente o pássaro pelas brisas da calma.
A tempestade não demora, ela vem para o devorar
Com a sua chuva de transtornos que consome a alma.
Quem receia libertar-se nunca vai saborear nada.

Desfazem-se os escombros do ser na escuridão
Enquanto ele se entrega à sua última balada.
A canção da vida irá agora desvanecer-se
No horizonte da fala tremida e inacabada.

Tanto que se iludem os ilustres e decadentes
Pensando que o problema da vida é viver.
Na verdade são eles os únicos toxicodependentes
Desse veneno que os destrói, o seu ego e cegueira.

E enquanto o desconhecido assusta como agulhas
Os becos mentais insustentáveis dos demais,
Eu vejo a doença da racionalidade propagar-se
Por entre actos e falas destas mãos mortais.

Have my heart

Trudging in the darkest abysses of the mind
There has not been a soul to call my own.
No matter how hard I try to remain kind,
Hope hasn't lifted but my heart has flown.

Torn apart by time, these memories strive
To destroy the reasons that make me mourn.
I'm waiting for you to finally arrive
And nullify the emptiness I have always worn.

There is nothing left in the winds for us,
The heavens created these feelings, thus
Let there be one final spectacle in this circus.

Have my heart, I long let it find its way,
To the someone that wouldn't let it go astray,
To your shadow, standing there in my dark pathway.

1 de março de 2011

Sonhar [ aniversário do blog: 1 ano! ]

Tão fácil que é, viver estando já morto.
A besta humana sempre foi boa a perder controlo,
Leva um caminho a direito que dá para o torto,
Procura forma de afundar no próprio desconsolo.
Tantos milhares de anos necessários
Para abrir a mente a estes mercenários?

Cedo comecei eu a sonhar com o mundo,
A vislumbrar toda a matéria das emoções.
Num mar de palavras e imagens me circundo
Para me perder destas mentais obstruções.
Nada no entanto me podia salvar da agonia
Que foi viver na escuridão em plena luz do dia.

Já fui abatido, já fui desprezado pelo meu eu,
Escravo da tristeza constante e conformista.
Ninguém é imune àquilo que é apenas seu,
A maior guerra é enfrentar a nossa face pessimista.
Apenas quem for mesmo dono da sua história
Pode dominar os monstros da sua memória.

Observo cegos perdidas por entre as ruas,
Crianças pobres a sorrir com sentimento.
Vestem os sonhos que deixam as pessoas nuas,
Vêem para além do azar e encontram contentamento.
Pois todos somos condenados ao mesmo final
Mas a consciência dos demais cai como a cal...

Nesta terra cada um é vítima do consumismo,
Essa sanguessuga que nos adormece a mente.
Pensar só em si é uma vitória do cinismo,
A sociedade não quer ver e não sente.
As nossas motivações advêm dos sonhos,
Sem eles somos apenas animais enfadonhos.

Sonhar é ver o horizonte e ignorar o precipício,
É tropeçar numa pedra e rir da trapalhice,
É errar, aprender e não cair no vício,
É crescer mesmo quando se atravessa a velhice.
Soubessem todos pensar sem quaisquer tremores
E o mundo teria menos pessoas e mais sonhadores...

...
Parece que já passou um ano. Apesar do ano ter sido difícil, na escrita, parece que foi ontem que tudo começou! E acho que depois de tanto dissabor e prazer, será justo incentivar, não só a mim com o sonho de continuar a escrita, mas também quem me incentivou a criar estes humildes murais de palavras.
Agradecimento muito especial à Sílvia Almeida, a maior apreciadora de todos os tempos. Nunca foi preciso mais que palavras entre nós para que a compreensão fosse mútua...um grande obrigado. ^^
Quero também agradecer à Lara Prudêncio, que apreciou os meus primeiros textos e mesmo distante sabe bajular-me de uma maneira mais poderosa que as próprias letras!
Agradecimento à minha Amoura aka Filipa Manteigas, que muitas vezes tirou-me dos escombros da minha angústia e ajudou-me durante tempos difíceis no meu interior. Também me inspirou em alguns dos posts!
Agradeço também a todos os que decidiram seguir o meu blog, eu não esperava nem hei-de esperar uma grande audiência, esse nunca foi o meu objectivo. Serve apenas alguém identificar-se com o que escrevo à sua maneira, interpretando e dando carinho aos significados fortes e subtis.
De resto, agradeço a mim...por ter decidido ir em frente com isto. Até ao próximo post! (: