30 de novembro de 2010

Ser e sentir

Verdades quebradas percorrem o meu ser.
Sou uma combinação de genes degenerados.
Pensar que também erro corrói o meu viver.
Os que me rodeiam são fantasmas apenas.
Assombram os meus esconderijos mais iluminados.
Todos estes pensamentos negros voam sem penas.

Aquilo que eu sou odeia aquilo que fui outrora.
Sentia que o meu interior há muito que fugira do que está por fora.
Ainda tenho o desejo aceso e imortal de ser humano.
Livrar-me deste rótulo de pessoa que me serve como um "fato" profano.
Tudo é meio preenchido ou meio vazio.
O acto de pensar é deixar uma mente infinita presa por um fio.

Sinto saudades constantes de tudo aquilo que tenho.
Tento esquecer tudo aquilo que me falta.
É um paradoxo racional de extremo engenho.
Porque o que me falta é cada vez mais cobiçado.
Remove-me a liberdade de subir para a ribalta.
Faz de mim um ser cada vez mais limitado.

E assim no fundo, não sabemos mesmo nada.
O ser vai além do além, do metal que se faz uma espada.
O sentir é sonhar além do sonho e da imaginação.
É saber pegar nas cinzas e fazer a nossa reconstrução.
Nada tem que ser simplesmente branco ou preto.
Eu sou tudo o que odeio para assim não me tornar obsoleto.

23 de novembro de 2010

Amor entre os versos perdidos

Percorri meio mundo,
Caminhei meia estrada,
Tentei encontrar um sentido profundo,
Tentei procurar-te por entre a calçada.
Vivo nesses caminhos de escrita,
Vagueio pelo olhar da timidez,
Acredito no que ninguém acredita,
Faço ouvir-me perante esta surdez.
Nunca me senti tão vazio,
Nunca confessei a minha vontade,
Temo ser apoderado por tanto calafrio,
Quero perder esta minha ociosidade.
Escondi-me entre os versos perdidos,
Refugiei-me nas águas da poesia,
Recitei-te sonetos tão queridos,
Desejei o teu espírito livre de maresia.
Não sei se alguma vez saberás,
Não creio que nos voltemos a cruzar,
Cada um tem o seu espírito forte e voraz,
Mas saberei que já estive preparado para dar.
O que não te disser irá fazer eco,
O silêncio carrega agora o meu legado,
Vou deixar de ser apenas um boneco,
Vou fazer do teu caminho o destino sagrado.
Num mundo dos “e se…” e da agonia induzida,
Onde tanta verdade fica sempre por dizer,
Não quero ser mais uma pessoa corrompida,
Quero contar aquilo que me fez rejuvenescer.
Posso ser morto no meu interior,
Posso não saber o que vem a seguir,
Mas se me ensinaste o que é o amor,
Farás este coração frágil voltar a sentir.
No berço da minha perturbada calma,
No calor dos teus abraços dispersos,
Deixo-te aqui a minha alma,
Deixo-te agora os meus perdidos versos.

20 de novembro de 2010

Ficar

O mundo adormeceu.
Praticou um suicídio que na verdade nunca se sucedeu.
Criou um ser indiviso na realidade fragmentado.
Não mediu a lágrima que no peito do Homem correu.
A verdade fez as malas.
Perdeu toda a fé depositada nessas mundanas falas.
Criou-se um ser que vive no eterno passado.
Apenas consegue ver o final e nunca as anteriores salas.
A realidade regozija.
Não altera a brutalidade mais cruel e rija.
O desprazer da incerteza é instalado.
Não se sabe o que fazer com tanto oxigénio fora da botija.
O pensamento agonia.
Matou o pouco sentimento tremulo que existia.
Criou o medo de temer a falta do preenchido.
Fez nascer um caos com organização tal e fria.
O tempo dissipou.
Contentou-se com uma felicidade que nunca chegou.
Chega o egoísmo do fugir deste sítio mal amado.
Deu expectativas a um ser que de si próprio se desviou.
A mente vacila.
Prendeu-se ao nada e com o tudo se mete na fila.
Criou-se o conformismo do inanimado.
Subsistir tornou-se ser montanha de apenas argila.
O inconstante é certo.
Sente-se tudo longe mesmo quando tudo está perto.
A dor da alma é o cancro que não pode ser curado.
Luta indefinidamente para encontrar respostas no incerto.
Mas a consciência quer ficar.
Apesar de tudo sabe que existe sempre qualquer coisa para amar.
A esperança será o último fragmento a ser enterrado.
Este ser imperfeito terá sempre tudo de si para poder dar...

A questão é: será que mais alguém com consciência e alma consegue com ele ficar?