22 de dezembro de 2014

Quanto

Caem as primeiras chuvas no meu relvado
De pensamentos sobre o (meu) mundo.
Perseguindo ideais encontrados apenas no orvalho
E pinturas de vidas num horizonte sem fundo.

Questiono. Persigo o passado passado e o que ainda não passou.
Emoções cujos rastos são como asas de borboleta
Cujo pó polvilha uma relva que em nada mudou.
Quanto do meu campo estará no meu campo de visão ?

Quanto de nós fica e quanto parte com alguém ?
Quanto amor fica retido nas profundezas de ninguém ?
Quanto é quanto afinal, na doçura implacável da existência ?

Somos quanto quisermos pois dar é infinito,
Somos lendas heróicas desta vida sem mito,
Somos quanto o quanto for, numa etérea e eterna essência.

[ Perdemos quantas oportunidades apenas porque acreditamos numa única solução, num único caminho, no descrédito da esperança de existir algo mais ? As opções são, de facto, infinitas. E mesmo que se saiba o que nos completa, não saberemos quem ou o que possui tal sentimento de realização...até irmos explorar, até testar os limites, até. Isso mesmo, até ao momento de agir. ]

3 de dezembro de 2014

Sombra de uma memória

Acompanhar o tempo deixa um rasto.
Um distúrbio sereno na doce mente
Que se arrasta, lentamente,
Uma sombra que espalha luz.
Por vezes é uma dor mitigada e persistente,
Outrora rubescente e sedenta, intensa.
É uma sombra da mente,
A escuridão visível apenas à luz (in)sana.
Memórias crescem e encolhem o ser temente,
Ofuscam razões inexistentes para o (in)conformismo.
Conformar-se com a morte e não com a perda iminente
É o nosso mais maravilhoso mecanismo.
Movidos por motivos de amor ardente
Onde horizontes são o nosso chão de apoio
E a vontade é o tudo ou nada da existência decadente.
Serei crente da vida? Creio nas palavras sentidas
E nas palavras fingidas desta sombra (in)dependente.
Somos memórias vividas e incertos futuros,
Somos um passado próximo e (in)consistente.
Pois sem nós próprios não somos nada, somos somente.
Deixar um rasto, é saber acompanhar o tempo.

[ E acompanhar o tempo tem tanto de previsível como tem de incongruente e estranho...não é ? O "timing" determina mais do que pensamos. ]





17 de novembro de 2014

Silence and Sanity

Left by unveiled consciousness of the old days,
Dark, relentless memories invade the mind.
I'm left to wonder why the present criticizes the old ways,
To question the sanity in me that I'm yet to find.

Discovered by the languid embrace of silence
I find peace within the pain of thinking,
Of feeling nothing but thoughts so dense
Like waves that never wash ashore, swirling.

Is there but a moment of truce in me ?
Confidence is afraid of its own shadow,
Darkness is afraid of what it can't see,
Light is an illusion in a heart so hollow.

There comes a moment when all fades away,
Light is darkness, shadows are real,
Thoughts so dense finally led astray
Into the world of those who can feel.

We grow out of innocence and purity,
We fight despite knowing our impending doom.
Silence and sanity are jealous of our maturity,
For we are life's most unpredictable heirloom.


[ I'll let your consciousness decide whether life is as menacing as darkness or as bright as the sun. Who knows, maybe you'll find that things are what they seem...but are you what they influence ? ]

27 de outubro de 2014

Identidualidade

Relembranças empoeiradas e esquecidas,
Vivências distantes e desconhecidas
Cobrem o chão calcado pela experiência
De quem só se conhece sem essência.

O Paraíso da loucura chega em puro devaneio
Nos recônditos da mente sem mora nem refreio,
Viver sabe ferir mais que a mortalidade certa,
A consciência é mais fatalista quanto mais desperta.

Que nos valha a insanidade da realidade
Para abraçar as dúvidas do turbilhão de sentidos
E da coragem tímida do mundo em mudança.

A nossa identidade é uma constante dualidade,
São aqueles momentos de paz com soldados feridos,
Uma eloquente frustração que brilha com esperança.

[ Que nos valha a insanidade. Que nos valha os momentos em que despimos a realidade e nos vemos a velejar pelas correntes das nossas paixões e loucuras. O mundo pode parecer por vezes injusto e cru, mas só o é para quem nada faz e nada sente, para quem nunca cede à sua identidade e fica febril, frágil. A vida é uma criança, o mundo é o seu baloiço. Se não tivermos quem nos empurre...basta darmos aos pés e poderemos voar. ]

3 de outubro de 2014

Regressos

Amargura sabida,
Eis que regresso.
Aos vícios da vida,
À mente do avesso.
Por vezes me detenho
Pensando no que não fora,
Naquele orgulho ferrenho
Do que podia ser agora.
Tempo fútil esse,
Desprovido de si até ao segundo,
Combatendo para que o futuro desse
Mais de si ao cansado mundo.
Para quê? Mistério é energia,
É aventura no nosso íntimo!
Exigimos com sede vadia
O todo em detrimento do ínfimo.
Se sentir for dor e dor
É o nosso irremediável destino,
A alegria é o nosso maior rancor
Por ser uma fonte de canal fino.
Não nos limitemos pois é redundante,
Os regressos da alma vão chegando.
A aprendizagem é como um trovão ribombante,
Por todo o seu impacto, vai viajando.

[ Dúvidas...quando a fé colocada em outrem é espezinhada e humilhada, os fracos de mente tendem a criar uma concha onde podem passar o seu tempo. A individualidade é uma coisa rara, delicada, quando descoberta é o que de melhor temos para connosco, para com o mundo. Pode tornar-se difícil recordar que a realidade é dura e desilusões e alegrias coexistem, mas existe uma verdade absoluta: quem sabe quem é, nunca terá dúvidas quanto ao seu caminho. E quem quiser vir perturbar esse equilíbrio, os "regressos" da nossa consciência irão travar as dúvidas e recolocar-nos no caminho certo. ]

7 de junho de 2014

Viagem

Um caminho é tão nosso quanto é do ar,
Instável, incerto, não tem apenas uma direcção.
Um caminho é tão seu como é do mar,
Seguro no início e afundado depois na escuridão.

Nós somos tão nossos como somos dos demais,
Ora nos amparam a queda, ora nos deixam cair.
Nós somos tão justos quanto somos imorais,
Descascando o mundo à força até ele se esvair.

Bons e maus, confiantes e inseguros,
Reflexos de olhares maus e puros,
Existe muito que nos vai atormentar.

Mas a viagem é apenas uma;
Enquanto existir sol por entre a bruma,
O caminho certo irá surgir para nos guiar.

[ E que é a viagem se não o percurso, o esforço, o não desistir? Não importa o caminho que tomamos ou quantas vezes nos perdemos. Vamos ter sempre o bom e o mau, a solidão e o abraço apertado, a dúvida e a certeza. O rumo segue e nós vamos com ele. Vemos-nos por aí... ]

19 de maio de 2014

Cadeados e trancas

Sonhador desta realidade descaída,
Do meio sem meia medida,
Ouvi-te com a voz que não faz som.
Alheio à realidade estarrecida,
Eis que te vi, num vislumbre de vida
Que sabia ser tão raro,
Sabia por tê-lo visto.

Sonhador da caixa vermelha em riste,
De tranca entrançada e triste,
Senti a tua alma vacilar.
Tanta força que persiste,
Não há vontade que diste
Aquilo que eu vi,
Como uma febre de vida.

Sonhador, oh sonhador,
Do sonho arrancaste o fervor,
Destruí o cadeado sem saber.
Agora com o sol a pôr,
Não há clamor
Que renegue o teu direito,
A chave sempre te pertenceu.

[ Não sei se saberei alguma vez explicar isto...apenas que a caixa-forte e vermelha de cada um, o nosso coração, funciona de maneiras que não se explicam. Faz-nos actuar sem saber o papel, faz-nos avançar quando estamos parados, faz-nos ter esperança quando a mente há muito desistiu. Sonho com o dia em que, das poucas chaves que entreguei ao longo da minha vida, uma abra a minha tranca...e ela nunca mais volte a fechar. ]

4 de abril de 2014

Eu, comigo

Pedaços.
Fragmentos de lucidez alheia assolam-me.
Pedaços de ser, de mim,
Seres de mim de outrora
Sentam-se comigo à mesa da alma.
A távola redonda da minha essência
Cresce, e apenas eu estou lá.
A minha visão é apenas minha,
Partilhada comigo.
Não compreendia o significado do mundo
Até o meu passado o apresentar.
Não partilhava a minha dúvida
Antes de ter a certeza.
Eu sou eu, sendo muitos.
Aprender é um luxo próprio,
Reviver, uma lição não retida.
Tenho em mim todos os sonhos
Singulares e plurais da minha vontade!
Pedaços de ser, de mim,
Fragmentos de lucidez minha reúnem-se.
Pedaços.

[ É absolutamente impressionante como procuramos respostas ao longo da nossa vida e, como que por magia, algo do nosso passado nos mostra como já sabíamos o que fazer ! Observei e reli os meus textos passados e revejo-me em situações passadas cuja resposta era clara, como se agora eu estivesse a olhar para um génio cuja inocência mostrava mais potencial do que o conhecimento adquirido com o passar dos anos. Não somos verdadeiramente fracos e impotentes. Temos em nós tudo o que é necessário para adquirir as nossas respostas, mesmo que não as consigamos compreender sem dar tempo ao tempo; por vezes, ao invés, temos é de retirar tempo ao tempo ! ]

22 de março de 2014

Dispersão

Quanta força encontro na imensidão.
Este sou eu, vasto e contido numa esfera
Que gira em torno do nada, no meio de tudo.
Este, é o mundo que me rodeia, infinito;
Finito na percepção decadente do olhar.
Vêem tanto, vendo tão pouco, sendo ainda menos.
Deveria preocupar-me? Preocupar-me no que ser?
Quanta fraqueza encontro na imensidão.
Esses são os demais, de altivez notória
E pequenez "escondida" no seu porte.
Este, é o mundo que os rodeia, finito;
Infinito na sua capacidade de os diminuir.
Sofrem tanto, com tão pouca razão, sentindo ainda menos.
Deveria queixar-me? Implorar perdão ao sentimento vazio?
Quanto de mim encontro na imensidão.
Sim, sou eu, passando pelos demais
Como se apenas eu lá estivesse, bem, só.
Só existe uma rima nesta escrita, solitária;
A essência que existe e é alheia a tudo o resto.
Uma mente na sua infinita dispersão.

[ É um facto que nem todos se sentem da mesma forma, agem da mesma forma, procuram a mesma coisa da mesma forma. Existe um mundo infinito de opções, e vemos tudo como se o problema ou a intempérie fosse o maior obstáculo; muitas vezes, o problema é a nossa própria mente. Estagna tão rapidamente pensando no problema, quando a forma mais rentável é procurar a solução. Talvez pareça estranho que eu me sinto sozinho no meio da multidão, ou mais estranho ainda que o facto de me sentir sozinho nessa situação me faça sentir bem, mas é apenas a minha perspectiva - a minha forma de existir - e se sei que funciono melhor assim, porquê ser como a multidão, não é? Eu tenho-me a mim. Mais do que ninguém, conheço as minhas estranhas engrenagens. Só falta o restante mundo aprender a olear as suas. ]