2 de setembro de 2010

Chuva de verão

Dizem o dizer.
Nunca dizem o fazer.
Tanto cuidado para não ceder,
Se no final lutar é perder.

A chuva não cai por cair.
Ela não tem por onde fugir.
A vontade de chorar e partir,
O sacrifício de ter que existir.

Ter que caminhar por esses caminhos raiados,
Descobrir que se caímos logo somos sugados.
Sorte a de quem vive com os sentimentos trancados,
Fortuna desses que ainda são mais amaldiçoados,
Que nada foram e contudo de nada são privados.

Coitado do destino por ter que ser tão cruel.
Deixar o mundo viver e esta chuva atada ao cordel.
A justiça provou que tem que haver abelha e o seu mel.
Ambos estarão eternamente ligados de forma infiel.
Cada um é como que um guerreiro sem o seu corcel.

Tanto por dizer e há tanto que falar perdeu a vida.
Poderia haver uma tempestade mas seria logo sacudida.
Esses raios de sol privaram a nossa já tardia partida.
Somos consumidos pela indiferença da calçada aquecida.
Percebemos que a nossa presença não é clara e assumida,
Passámos a meros vestígios apagados no meio da corrida.

O sentimento faz pesar essa vossa leve consciência.
Não percebem que a chuva sempre teve consistência.
Que nunca fomos menos importantes na nossa ausência.
O vosso problema é não compreenderem a nossa vivência.
Podemos parecer pontos minúsculos sem qualquer congruência.
Mas somos diferentes por possuir algo que luta contra a vossa demência:

Um coração !

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