7 de fevereiro de 2011

Identidade

Perdi o meu espelho visual.
Sou mais uma sombra por entre a luz escurecida.
Sem face, sem recordações nem perspectivas.
Sou mais um que equivale a zero,
Uma soma nula ao mar de faces anónimas.
Já não me vejo a ser, somente a querer tornar-me
Em algo mais que isto ou menos que aquilo
Num desenfreado tormento calmo e impetuoso em mim.
Encontrei vários reflexos cegos que não me pertencem,
Vários eus quebrados em tus desconhecidos.
Vieram perante mim com toda uma vida igual e indistinta
Que me levou aos recantos do nada
E aos segredos de uma vontade extinta.
Pobre rima equivocada aqui desamparada
Sem existência pura com força desancorada
Sarcastica e propositadamente largada
Pelo orgulho do meu ninguém acompanhado do ser eu.
Farto que estou de ser gente.
Insulto, ser entregue à impotência do conceito do limitado
E ao destino dos cadáveres deambulantes nas ruas.
As minhas escolhas nunca foram as tuas
E de novo vem a rima mostrar a sua individualidade
No meio de tanto discurso disperso e de disparidade.
Por entre esta crise de identidade atordoada pelo viver
Entre o que vai sendo meu e o que é meu por direito
Vem tudo o resto, vem portanto tudo.
Condenem-me enfim
Enquanto a rima olha para mim
E me diz que o igual para todos não tem que ser assim.
Eu sendo eu, apenas tenho que aprender a ser,
Um foragido de todos os significados que implicam o existir.
Identidade que seja minha já lá está, intrínseca no meu viver.
A diferença vai até onde eu querer, e se eu quiser,
Se eu quiser...pego na minha rima. Já poderei partir.

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