4 de junho de 2010

Sentir ou não sentir, eis o sufoco

Se pudesse, deixava de poder.
Se sentisse, deixava de sentir.
Se existisse, deixava de existir.
Se tentasse, deixava de tentar.
O estrangulamento pelo meio termo, o não cambalear nem para um lado nem para o outro.
O forçar quebra a força, o equilíbrio é um limbo repleto de prurido.
Que sofrimento sôfrego!
Que dor não sentida e sempre presente!
Porque tem que existir algo que atormenta e não existe?
Porque tem que haver sempre formas de desfigurar o que outrora também eram formas?
Oximoros existenciais!
Oximoros que não existem!
Manifesta-se a cólera, a raiva, o frenético desejo de destruição.
Manifesta-se a falta de tudo isto por não terem qualquer razão para existirem.
Falta algo que não falta.
Falta algo que se repete.
Incompleto é o coração sem sentimento.
Incompleto é o poema com excesso dele!
Já nada parece fazer sentido.
Já nada é verdadeiro neste mundo de plástico moldado à vontade do desejo mais mesquinho.
Já nem quero tentar sentir algo bom...
Já nem preciso da chuva para me encharcar de desespero...
Só quero saber se há forma de sentir seja o que quer que for, bom ou mau!

2 comentários:

  1. Tudo o que nos falta é o que nos atormenta mais. Aquela falta, aquele vazio não preenchido...

    E às vezes não podemos ter tudo, mas tudo o que temos de bom deve ser valorizado.

    Neste "mundo de plástico" ainda existem sentimentos. No fundo eles estão sempre lá, mesmo que tapados por tanta futilidade e malvadez.

    Mais um texto poderoso! :)

    ResponderEliminar
  2. é, de facto, um texto poderoso, mas o comentário da Sílvia atormenta-me com perguntas como: será que realmente estaremos um dia completo? não me parece que um ser tão complexo como o ser humano saiba pôr termo a si próprio e definir quando já chega para si. há sempre aquela procura incessante pelo desconhecido... que, no entanto, não é a apatia: não é a existência da própria inexistência e do vazio, da falta!

    ResponderEliminar