3 de julho de 2010

Pseudo-vida

Opiniões. Julgamentos e conclusões que tanto têm de comum como têm de contraditório. Uma cumplicidade de foro antitético. Um divórcio entre conversações. Não é fácil aceitar uma opinião diferente da nossa. Não é fácil compreender o que não aparenta fazer mais sentido desde o início. Início...até isso, o começo de tudo, é questionado, esmiuçado, desfeito, refeito, especulado, abandonado, recomeçado e nunca descodificado.
Imagina-se demasiado o não atingível. Sonha-se sempre com o que não se explica. Este vício por conhecimento torna-se o maior cancro da vida. Irónico que a própria origem da vida seja questionada para responder a uma questão ainda maior. Irónico que a origem da vida traga tanta "morte cerebral" para tentar compreender algo de pouca verdade e muito juízo de valor: o sentido da vida. Esse Adamastor mental que assombra o Homem até às profundezas escuras do conhecimento.
"Razões" opinadas a rastejar como cobras cobrem o pavimento da incerteza. Afirmações influenciadas e corroídas sem destino ou rumo garantido. Muitas pessoas debatem-se para tentar dar sentido à vida baseando-se naquilo que crêem. Muitas pessoas não dão valor a outras hipóteses e teorias porque não são aquilo com que se identificam. Como pode alguém tentar assumir uma verdade universal que não é aceite por ninguém que não si próprio? Como pode uma questão ser respondida se ninguém partilha um consenso?
O choque das pessoas ao quererem saber a minha resposta é-me intrigante. Eu não tenho opinião sobre esta questão, eu não procuro dar sentido à vida. Já me acusaram de ser imprudente e superficial por não conseguir encontrar um sentido na vida, tudo porque eles tinham opiniões próprias. Opiniões que não são mais que isso mesmo. Eu só acredito em verdades universais ou especulações minimamente aceitáveis. Não defendo nenhuma religião, não existe divindade alguma que me consiga explicar o sentido da vida. Não faço juízos de valor só porque tal vai um dia ajudar-me a pensar que continuar a viver vale a pena. Eu nunca quis terminar a minha vida. Eu também nunca pensei se deveria fazer sentido ou não vivê-la. Vou simplesmente vivendo, dia após dia, combatendo os desafios que me são propostos, aceitando o que a minha mente aberta, mas céptica, absorve.
Muitas pessoas vivem presas a crenças e influências apenas para tentar arranjar um motivo para seguir em frente. Muitas pessoas vivem sem viver, simplesmente deixando-se levar pelos juízos de valor influenciados. Procuram um sentido na vida que nem sequer é algo conjecturado, pensado, especulado. É um sentido que outros já tentaram dar à vida, e no entanto, defendem tais ideias como seus, criticando aqueles que não possuem opinião definida. Vivem uma vida que não é deles, uma razão exterior à sua mente.
Eu não preciso de arranjar inspirações ou verdades que não me pertencem. Não preciso agarrar-me a um conceito de vida que não faz sentido. Não preciso de estar preso numa pseudo-vida só porque me faz sentir mais seguro ou confiante. Eu sou eu, crio as minhas linhas de pensamento, defendo os meus ideais, e sigo em frente de cabeça erguida. A vida pode não ter sentido por vezes, mas isso não termina com uma simples aceitação metafísica de ideias, termina sim com fazermos algo para sentirmos que estamos realmente a viver e continuar a caminhar essa estrada com vontade própria. Nada pode fazer sentido se a única coisa que aceitamos não está em nós!

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